A descrição rivaliza com os mais assustadores filmes de terror. Há já mais de cinco mil grávidas que viveram este pesadelo, na América Latina. Começam por ter febre, manchas vermelhas na pele, dores nas articulações. Foram picadas por um mosquito, o Aedes aegypti (o mesmo que transmite o dengue e a febre amarela), e as análises confirmaram a infeção com o vírus Zika. Um vírus que, ainda sem se perceber exatamente como, consegue penetrar a placenta e impedir o desenvolvimento cerebral do feto. No Brasil, já foram reportados 3 893 casos de bebés com microencefalia, em apenas dois meses. Mais de um milhão e meio de pessoas terá já sido infetada.
Como travar esta epidemia? O Brasil, que já vivia uma das mais graves crises de dengue, com 1 milhão e 600 mil casos da doença e 800 mortes confirmadas só no ano passado, trava uma luta difícil contra este minúsculo mas devastador inimigo.
Ontem, o ministro da saúde brasileiro, Marcelo Castro, assumiu que o país está a perder a batalha, apesar de todos os esforços. “É uma verdadeira epidemia que temos de evitar, para não termos uma geração de pessoas com deficiências ou transtornos.” Vastas áreas do país estão a ser fumigadas com inseticidas e, no nordeste, prossegue o programa de libertação de mosquitos machos modificados geneticamente, para conter a proliferação de larvas.
À população é pedido que não tenham nenhum recipiente com águas paradas (vasos de flores, por exemplo), que usem redes mosquiteiras, roupas compridas e repelentes. Muitos repelentes. As grávidas, contudo, não deveriam usar produtos com grandes doses de DEET – o único químico a que estes mosquitos ainda parecem resistir, estando já imunes a todos os outros componentes. Essências como a citronela, muito usada em velas e em repelentes para grávidas e crianças, não demovem nenhum destes insectos.
Pouco mais há a fazer. Não existe nenhum tratamento, nenhuma vacina. Por isso, a Direção-Geral de Saúde, seguindo o caminho de outras autoridades internacionais, desaconselhou esta semana quaisquer viagens para o Brasil e Cabo Verde, bem como para a Colômbia, El Salvador, Fiji, Guatemala, México, Nova Caledónia, Panamá, Paraguai, Porto Rico, Samoa, Ilhas Salomão, Suriname, Vanuatu, Venezuela, Martinica, Guiana Francesa e Honduras.
Em Portugal, foram, até ao momento, confirmados laboratorialmente pelo Instituto Ricardo Jorge quatro casos em cidadãos portugueses que regressaram do Brasil. E a Madeira, com o seu clima subtropical e com a presença confirmada do mosquito transmissor, deve ficar particularmente alerta às vagas de propagação deste vírus, descoberto no bosque de Zika, no Uganda, em 1947 – mas que agora se propaga com uma força nunca vista, sobretudo na América Latina.
O Zika é o mais recente vírus transmitido por um mosquito a causar alarme mundial. Este ser aparentemente inofensivo é responsável por 725 mil mortes anualmente. Da próxima vez que lhe perguntaram qual o animal de que tem mais medo, esqueça os tubarões, as cobras ou os leões. O mosquito é o animal mais mortífero do planeta – mais até do que o Homem. E só a nossa inteligência, no campo das estratégias de prevenção, nos poderá salvar.