Uma sondagem publicada hoje (quinta-feira, 22) no Diário de Notícias, realizada pela Universidade Católica, com simulação de voto em urna e realizada a 17, 18 e 19 de maio, pelo método das freguesias-tipo (escolhem-se aquelas onde os resultados emulam as votações anteriores nas europeias), dá uma vantagem de quatro pontos percentuais ao Partido Socialista. Com 34%, a lista liderada por Francisco Assis deixa para trás as encabeçadas por Paulo Rangel (PSD/CDS, 30%), João Ferreira (CDU, 13%), Marisa Matias (BE, 5%) e Marinho e Pinto (MPT, 3%).
A margem de erro da amostra é, segundo a ficha técnica da sondagem, de 2,1%, o que significa que estas diferenças entre os partidos ainda se podem alterar. No limite, o PS pode ter 31,9% e o PSD/CDS 32,1% – ou seja, a dupla Passos/Porta batia Seguro por 0,2 pontos.
Convenhamos que não é um panorama muito favorável para António José Seguro. A confirmarem-se os dados desta sondagem – até ao lavar do cesto são vindimas – o secretário-geral do PS estará, a partir de domingo, 25, numa alhada. A diferença de votos não será suficiente para saciar os que lhe cobiçam a liderança do Partido Socialista. E, convenhamos, com razão: depois de três anos de zelosa aplicação da cartilha da troika, depois de várias mentiras ao eleitorado – sobre salários, impostos, 13º mês, desemprego, metas do défice, níveis da dívida pública… – apenas a “ausência” do PS explica que a dupla PSD/CDS possa aspirar a tão bom posicionamento. Ou o eleitorado não sofreu tanto com o ajustamento quanto se diz ou o PS não se conseguiu posicionar de modo a fazer a diferença.
Creio que foi a segunda hipótese. E porque o PS não fez a diferença, Marinho e Pinto, um populista sem programa mas com verve, que à falta de ideias expõe sem pudor a sua veia caceteira, poderá ser eleito. É um abanão no establishment insuficiente para mexer com os tradicionais arranjos político-partidários em Portugal, ao contrário do que se espera que venha a acontecer, por diferentes razões, em França (le Pen), Reino Unido (Farage), Itália (Pepe Grillo) e Grécia (Tsipras).
Para a CDU será uma marca importante. O partido de Jerónimo de Sousa tem acumulado pequenas vitórias que o mantém acima da linha de água, prolongando um estranho fenómeno de sobrevivência político-ideológica que ninguém consegue explicar (nunca consigo esclarecer os meus amigos estrangeiros como é possível a existência em Portugal de um partido marxista-leninista clássico com 10% dos votos). Para o Bloco de Esquerda, na iminência de passar de três para um eurodeputado e para metade da votação obtida em 2009, será um abanão que terá consequências ao nível da liderança dos bloquistas.
A grande incógnita desta sondagem reside nos 48% de inquiridos que não garantiu ir votar. É um valor bastante baixo face à abstenção de 63% nas últimas europeias. Se esta baixar, será uma estranha tendência face aos últimos anos. Que só se justificará pela omnipresente desactualização dos cadernos eleitorais ou pela ida em força às urnas para protestar contra a situação do país.
PS: A partir da próxima semana, Luis Valente Rosa passa a escrever para esta coluna. É uma companhia que muito me honra. Seja bem-vindo, Luís.