Nem Tudo É Ficção
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A casa de coral

Sentei-me à mesa deles. Ula herdara da mãe o cabelo denso e escuro, e, sobretudo, aquela segurança de quem funda e desenha os próprios caminhos

José Eduardo Agualusa
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Fúlvia

Acordei com o sol a dançar na parede do quarto. Na minha idade – em breve farei 100 anos –, qualquer dia de sol é um triunfo

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O sonâmbulo

Estava empenhado em distinguir se aquilo que sentia era um legítimo arrebatamento místico – o nirvana! – ou uma prosaica bebedeira

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Jamal e a morte

Malak entrou, um pouco surpreso. A maioria das pessoas que ele visitava recebia-o com choros e gritos. Muitos recusavam-se a acompanhá-lo, e ele tinha de os arrastar à força

José Eduardo Agualusa
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O olhar dos outros

Quando a guerra terminou,  descobriu que ainda a trazia dentro dele - à guerra! -, como um tumor maligno. Ouvir Bob Marley acalmava-o

José Eduardo Agualusa
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Café Abismo

Comprara o estabelecimento, dez anos antes, a um velho colono português, o qual, por sua vez, o herdara do pai

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Viver sem certezas

Alguns serão tentados a acrescentar que poucas pessoas no mundo têm o direito de se colocar no lugar de fala dos paraquedistas sem paraquedas

José Eduardo Agualusa
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Uma desculpa para sonhar

“Suspeito de que haja mais coisas no céu e na Terra do que sonha qualquer filosofia. Esta é a razão por que não defendo nenhuma filosofia e também a minha desculpa para sonhar”

José Eduardo Agualusa
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Três fábulas para os dias de calor

David puxou de uma faca, Abdel fez o mesmo, e logo se golpearam mortalmente um ao outro. O bode e a cabra acompanharam o drama de longe

José Eduardo Agualusa
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Um anarquista africano em Lisboa

“Se Luanda é um esquisse apressado de Lisboa, a capital portuguesa me pareceu uma caricatura grosseira de Paris. Os portugueses imitam os franceses em tudo”

José Eduardo Agualusa
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Silêncio: homens anoitecendo

Acho uma boa história, confessei. Certamente falsa, mas boa. O antigo guerrilheiro respondeu com uma gargalhada

José Eduardo Agualusa
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Nunca em Samarcanda

“Fui pessoa por distração”, pensou Zack, vendo os pássaros pulando de galho em galho. Preferia ter sido ave. Doíam-lhe nas costas as asas que não tivera

José Eduardo Agualusa
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A pedra do refúgio

Verdade seja dita que, quase sempre, quem quer que ganhe fica parecendo um pouco melhor do que o inimigo derrotado

José Eduardo Agualusa
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Tranças novas

Os jantares no amplo terraço, à luz de velas, das estrelas e do luar, eram um programa romântico, que atraia casais em início de namoro ou no último e desesperado estertor de uma relação conturbada

José Eduardo Agualusa
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O eco

Juvenal negou-se a fazer-lhe um aborto. Sugeriu-lhe, ao invés, que levasse a gravidez até ao fim e lhe entregasse o bebé

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Lúcia voltou para o mar

O psicólogo sentiu inveja da paciente. Lúcia queria ser mar. E, ele, o que queria ser? “Chame-a à realidade”, pedira--lhe Marina, a filha de Lúcia. “A realidade está muito sobrevalorizada”, retorquira Pedro, num tom de brincadeira. Nem ele estava a brincar nem Marina achara graça:– A minha mãe nunca conseguiu superar a morte do meu avô – murmurou. – Tenho receio do que possa fazer. Ultimamente diz que ouve vozes. As coisas falam com ela. – Que coisas?– Coisas que não têm boca: nuvens, morros, inclusive cores. Está completamente maluca.“Ela é mais lúcida do que todos nós”, pensou Pedro

José Eduardo Agualusa
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As cadeiras

Terminou dessa forma um casamento de mais de quarenta anos. O senhor Alberto Catuiti mudou-se, com duas malas tristes, para a Pensão Estrela, do outro lado da rua. Antes, exigiu que o dono da pensão mandasse retirar do seu quarto todas as cadeiras. O ódio dele às cadeiras vai ao ponto de só se sentar em bancos

José Eduardo Agualusa
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O vampiro de Berlim

O estúdio era um espaço apertado, com as paredes e o teto cobertos de garrafas, ampolas e outros recipientes de vidro, tudo isto iluminado por uma luz vermelha, quente e pesada, como a das antigas câmaras escuras

José Eduardo Agualusa
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Morrer de rir

Hoje, sabemos que a polícia ou o exército deveriam ter isolado a escola. Como não o fizeram, as meninas regressaram às suas casas, rindo, rindo, rindo, e contagiando no percurso muitos outros adolescentes e até alguns adultos. A epidemia saltou de Kashasha, espalhando-se rapidamente pelas aldeias e cidades mais próximas

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As musas do poeta

Sentou-se à sombra duma figueira-da-índia, que havia no quintal, a escrever o seu Parnaso. Dali podia ver Bárbara que, depois de matar a galinha, torcendo-lhe o pescoço, estava agora ocupada em escaldá-la para melhor a depenar. Fazia tudo isso com infinita graça e leveza, como se bailasse

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A cegueira dos rios

Estivera com ele horas antes do acidente, numa manifestação contra os imigrantes. Passaram duas horas bem passadas, gritando vivas a Portugal e morras aos ciganos, aos pretos e aos paneleiros. Depois que o povo dispersou, foram para uma tasca comer caracóis

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