ao meu primo Nuno
Ligou-me e perguntou:
– Júlio, sabes se a origem da palavra “criança” tem alguma relação com a palavra “criar”?
Que bela pergunta. Que bela pergunta!
Não sabia a resposta. E não percebi logo porque me perguntou a mim. Nunca estudei linguística, e ele sabia bem disso. Mas por debaixo algo me enchia de orgulho! Sou uma criança, dizia-me ele com este telefonema. Os adultos temem ser chamados de crianças. Os adultos temem esborratar a pintura. Os adultos temem ser vistos a andar de baloiço. Pior. Os adultos constroem parques infantis sem baloiços para os adultos. Os adultos acham que já não devem brincar, porque têm mãos e pés maiores do que tinham. Se calhar temos mãos e pés maiores para nos agarrarmos ainda melhor aos ferros dos baloiços e ao chão das corridas. Já sou adulto. Mas o meu primo não se esqueceu de mim, do meu piano, o meu brinquedo favorito, e fez-me um grande elogio.