Por 1852, Camilo Castelo Branco atravessava uma fase de profundo misticismo.
Havia algum tempo que se fixara no Porto, onde já era considerado como um romancista de méritos firmados, mas ainda andava à procura de um rumo para a sua vida.
Nos começos daquele ano frequentava as aulas do Seminário Diocesano, instalado, então, numa ala do palácio episcopal, junto à Sé e, a 17 de março desse mesmo ano, chegou a requerer tonsura, ou seja, que lhe abrissem na cabeleira, mesmo no cimo da cabeça, aquela espécie de coroa que era uma das marcas que distinguia os clérigos do comum dos outros homens.
A par com as aulas de Teologia, Camilo dirigia e redigia o “Cristianismo”, semanário religioso por ele fundado e do qual se desligou, em setembro de 1852, para fundar outro jornal, “A Cruz “, com a mesma periodicidade e as mesmas características doutrinárias.
Mas onde o cariz religioso e filantrópico de Camilo mais se fez sentir, foi quando o seu nome apareceu junto dos de outras personalidades sonantes da sociedade portuense da segunda metade do século XIX, que se propunham fundar uma creche sob a proteção de S. Vicente de Paulo. Uma obra notável de solidariedade social, que ainda hoje existe, e funciona exemplarmente, na rua de Gonçalo Cristóvão, e que teve como fundador número um, por ter sido o homem da ideia e da iniciativa, João Vicente Martins.
Em 1854 Camilo residia na rua do Pinheiro e era um dos cinco “visitadores“ da Associação Protetora das Creches de S. Vicente de Paulo, na altura instalada num prédio da rua da Picaria, por sinal muito perto da residência do escritor. A primeira sede funcionara na praça da Trindade.
Pela Leitura dos almanaques da época, ficamos a saber que no ano seguinte, ou seja, em 1855, o futuro autor do “Amor de Perdição“ era um dos sócios “instaladores e protetores“ da instituição onde, ainda nesse ano, além de visitador, desempenhava as funções de secretário geral da Assembleia Geral.
Camilo interessou-se pela fundação da Creche de S. Vicente de Paulo, serviu a instituição como visitador e no desempenho de cargos diretivos, sempre em regime de total voluntariado pois não podia tirar dessa atividade qualquer beneficio. Embora sendo seminarista, Camilo tinha uma filha que não podia ser admitida na Creche.