A primeira vez que Pedro Passos Coelho pisou o chão do Palácio de São Bento, como deputado, tinha 26 anos e liderava a JSD. Não se pode dizer que fosse imberbe – cá está uma foto, ou melhor, um frame de um vídeo emitido pela SIC Notícias, para o comprovar. Também não lhe faltava a ambição política para ir mais longe, mas ainda haviam de passar mais de duas décadas antes que chegasse à liga dos grandes, para onde entrou em 2010 pela porta da frente, diretamente para chefe do Governo.
Essa estreia parlamentar durou oito anos, divididos entre o último fôlego do cavaquismo e o arranque do guterrismo. E como a casta política não muda assim tanto, o jovem líder da jota cruzou-se nos corredores e no plenário com António José Seguro, José Sócrates, Ângelo Correia, Miguel Relvas, Pedro Pinto, Pacheco Pereira, Rui Rio, António Costa, Ferro Rodrigues, Jorge Lacão, Jerónimo de Sousa e até Heloísa Apolónia.
Alguns destes rostos voltou a encontrá-los agora, ao voltar ao hemiciclo, como primeiro-ministro derrotado por uma moção de rejeição, apesar da vitória de pirro, nas urnas. Outros nunca chegaram a sair da sua vida de gestor e amigo. Um deles – Miguel Relvas – foi, inclusivamente, o arquiteto do seu regresso à política e da sua ascensão ao poder.
De novo na Assembleia, Passos quis sentar-se na primeira fila de cabeça levantada e consciência tranquila, como noutros tempos, seguro de ter posto o País na rota certa, depois de anos de furioso endividamento, e convencido de que o seu lugar na História (ou pelo menos o do seu governo) estava garantido pela ‘saída limpa’ do resgate financeiro.
Só que a fatura dessa suposta ‘saída limpa’ chegou ainda antes do final do ano fiscal: mais de dois mil milhões de euros varridos para debaixo do tapete a propósito da resolução do Banif e a bem das execuções orçamentais, da fuga ao procedimento por défice excessivo e de outros números mais ou menos camufláveis.
Todo o discurso que Pedro Passos Coelho podia desenvolver na oposição, nos próximos meses, fica comprometido. E subitamente, o jovem de 26 anos, de cabeleira e barba farta, com olhar preocupado e estilo responsável, que Felícia Cabrita biografou como sendo “Um Homem Invulgar”, parece ter sido desviado do seu curso, algures no caminho que fez depois da primeira passagem pelo Parlamento. É a política?