Há um ano o mundo tomou um rumo desconhecido. Aquilo que parecia impossível em solo europeu aconteceu. Como em qualquer conflito bélico o que nos vem à cabeça em primeiro lugar são as perdas humanas; políticos velhos que não conseguiram chegar a acordo e que por isso enviam para o campo de batalha os seus jovens. Mas, em pleno século XXI percebemos que não é bem assim.
Hoje, os políticos não são velhos (em idade) e o mundo é global, pelo que as consequências de um conflito armado têm repercussões à escola mundial, qual bater de asas de uma borboleta.
A Europa, e de um modo geral o mundo, tem sentido essa repercussão. A inflação disparou, o custo de vida aumentou, a falta de matérias-primas gerou o caos nas cadeias logísticas, a dependência energética de países como a Rússia levou a Europa a repensar a sua estratégia para o setor. Em suma, a economia arrefeceu e a Europa sancionou a Rússia. A juntar a tudo isto, o esforço social, económico e militar da União Europeia para ajudar o país vizinho.
A forma como se faz comunicação também mudou. E com esta “nova forma” a política passou a ser moldada em tempo real, fruto de comunicações autênticas e efetivas, e onde os soundbites ficam no ouvido.
Para a história ficarão dois nomes: Putin e Zelensky. Duas personalidades distintas e que manejam a comunicação de forma oposta. Enquanto o primeiro comunica inspirado pelo tempo da guerra fria, seguindo o modelo da mentira e da manipulação da comunicação interna, numa quase total ignorância face ao poder de um simples telemóvel, o segundo usa a comunicação como arma de guerra.
Uma arma que não conhece fronteiras e que começa na forma como Zelensky se apresenta. Desde o início da invasão que aparece sempre com roupa militar, seja para receber líderes de outros países, seja para ser recebido por esses mesmos líderes. Uma arma que a primeira-dama também tem usado e que fez correr muita tinta quando fez capa da Vogue. Excesso ou não, a verdade é que esta invasão uniu o mundo e que a Europa, à hora que escrevo, aprovou novo pacote de sanções, o décimo, à Rússia. Para onde caminhamos, não sei. Mas o que parecia ser algo rápido e tratável com um simples “comunicado de imprensa”, está no terreno há mais de 365 dias e as movimentações ou visitas de Estado acontecem quase que diariamente, mesmo que para isso tenham de ultrapassar 10 horas de comboio.
Enquanto isso, por cá os protestos sucedem-se e aos professores juntam-se outras classes profissionais. Na rede social Facebook, e a propósito do pacote legislativo para dar resposta à crise habitacional, cresce a lista de Imóveis Devolutos do Estado. É caso para perguntar: comunica-se para gerir o destino do país, ou porque é necessário comunicar qualquer coisa?
Zelensky prefere o primeiro modelo. Não estará na hora de o Governo olhar para dentro e aprender com quem já foi apelidado de “palhaço”.
MAIS ARTIGOS DESTE AUTOR
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.