Já tínhamos a histeria instalada no espaço político, responsável por fazer resvalar grande parte dos discursos para uma polarização surda e cada vez mais irreconciliável. Assistimos a esse fenómeno, quase todos os dias, na maior parte dos países desenvolvidos. Em especial, nos debates parlamentares, em que a violência verbal e a coreografia para captar as atenções mediáticas passaram a incluir os truques mais básicos e rasteiros ‒ já encarados como normais e sem qualquer censura pública. A escalada é de tal ordem que, nos EUA, como se viu há poucas semanas, até já o tradicional e formal discurso do Estado da União, proferido pelo Presidente, foi interrompido por apupos e manifestações. Agora, como se isto já não fosse bastante, assistimos ao crescimento de outro fator de irracionalidade: o da paranoia de ver em tudo um sinal de risco ou de uma ameaça externa.
A escalada verbal que se começou a assistir, na última semana, entre os EUA e a China, é bem a prova disso. Quando se esperava um reatar de relações mais cordiais entre as duas superpotências, o clima de aparente entendimento desmoronou-se, num ápice, por causa de um balão que vagueava nos céus norte-americanos – que Washington acusou de ser um engenho espião e que Pequim garante tratar-se apenas de um instrumento meteorológico. De forma espetacular e mediática, o balão foi “abatido” por um caça F-22 e, em seguida, “capturado” quase como um prisioneiro de guerra.