A Coisa Pública tem de ser olhada com respeito. E o que significa “respeito” no mundo de (alguns) políticos? A julgar pelos últimos dias, onde a conjugação do verbo que traduz “sentimento que nos impede de fazer ou dizer coisas desagradáveis a alguém”, parece andar esquecido por muitos, parece significar muito pouco ou mesmo nada.
António Costa tomou posse como Chefe do XXIII Governo Constitucional no dia 30 de março de 2022. De então para cá o livro dos compromissos de Honra nunca mais ganhou pó e os escândalos com membros do governo têm sido uma constante.
Até ao dia em que escrevo este texto, tinham saído – entenda-se para fora – do elenco governativo 12 elementos, alguns a velocidade de cruzeiro. Diria mesmo que António Costa precisa de ir à bruxa ou importar uma bola de cristal para tentar a sorte grande, pois a terminação não está a dar!
Encontrar governantes que não tenham problemas com a justiça ou “telhados de vidro” é um exercício perdido pelo Primeiro-ministro. E o mais interessante é que os governantes apontados são ou estão ligados de alguma forma ao PS ou a pessoas do aparelho. Verdade que a Alexandra Reis, a gestora que ficou conhecida por assinar o livro dos compromissos calçando Louboutin, não se conhece problema com a justiça e que na base da sua demissão teve (ao que parece) o recebimento de indemnização por ter sido dispensada do seu posto de trabalho na TAP, mas basta olhar para os restantes ex-membros do Governo para perceber a falta de respeito pela Coisa Pública.
Com um Primeiro-ministro que parece governar inspirado no “método empurra com a barriga”, não admira que ministros e secretários de Estado não cheguem a aquecer lugar ainda que sejam escolhidos entre os seus. Um grupo que parece ter sempre contas a ajustar com a justiça, ou que no passado mais recente se aproveitou da Coisa Pública em benefício próprio. O mais recente caso liga a Secretária de Estado que menos tempo esteve no poder – nem sei mesmo se conseguiu informar a família de que já era governante – a um caso de não declaração de rendimentos ao fisco. São centenas de milhares euros de rendimentos não declarados pelo marido e ex-autarca de Vinhais que passaram pelas contas da ex-governante, que curiosamente ocupava o cargo de diretora regional de Agricultura e Pescas do Norte. Bem sei que o caso visa o marido, mas não terá a Sra. dado pela entrada de dinheiro extra na(s) sua(s) bancária(s)? Qualquer português que viva do seu rendimento daria por isso. Ou só usou a parte boa do dinheiro na conta?
Mas, os escândalos não ficam por aqui e o lugar da ex-Secretária de Estado de um Ministério que parece não contar absolutamente para nada (Agricultura e Alimentação) continua em aberto.
A ironia de tudo isto é que os terremotos causados pela, e atrevo-me, falta de credibilidade dos políticos têm na base uma lei criada pelo então ministro António Costa. Curiosamente o mesmo político que agora, na pele de Primeiro-ministro, fala na necessidade de criação de um mecanismo para que no circuito de nomeação seja feita uma verificação de factos passados das pessoas escolhidas para integrarem o elenco governativo. Ora, não conheceram os convidados/nomeados do Primeiro-ministro os seus pecados para em consciência aceitarem ou não cargos de gestão públicos? Será que vale tudo para ligar à família e dizer “sou ministro”, “sou secretário de Estado”?
O respeito pela instituição “Estado” tem de ser urgentemente reposto. E o exemplo tem de começar em quem nos governa. Será que nas resoluções de Ano Novo a conjugação do verbo foi inscrita?
As greves têm sido uma constante nos últimos tempos. Não sei se terão na base a agenda do novo Secretário geral do PCP. Mas que estão a fazer mossa, lá isso estão.
No meio do caos, preocupa-me que os professores tenham de continuar a manifestar-se e num braço de ferro constante com a tutela. Até quando? Até quando não ser irá perceber que esta é uma das classes mais importantes e estruturante de um país?
E de quanto tempo mais a direita necessitará para perceber que os tempos mudaram e que se for em bloco consegue ir a eleições, governar e inverter o rumo que o país está a tomar?
Credibilidade e respeito são duas palavras mágicas que o país precisa inscrever urgentemente na agenda do dia-a-dia.
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