O PSD quer um referendo sobre a eutanásia. Defende que o achismo se deve sobrepor ao estudo e à reflexão. Que o meu achismo é tão importante como a opinião de quem faz vida a pensar nos temas. Que muitos achismos juntos são a melhor maneira de decidir assuntos muito complicados e com muitas implicações.
Mais, o PSD demite-se assim da sua tarefa de representar em quem nele votou. Diz que os deputados estão lá apenas como figuras decorativas. Não estudam, não consultam especialistas sobre os temas e não se debruçam sobre os temas que interessam à comunidade.
Faz pior, o seu presidente diz que sendo o assunto muito “sensível” deve ir a referendo. Pois, é exatamente por o assunto ser muito sensível e muito complicado que deve ser entregue a quem tem por missão, dada pelos portugueses, pensar nestes assuntos.
Pelos vistos, o presidente do PSD pensa que todos os portugueses têm o tempo e a possibilidade para pensar em todas as implicações da eutanásia. E ainda que tivessem, não é essa a democracia em que vivemos.
Um tema que atravessa três legislaturas, que teve muitas rondas de negociação e reflexão entre os partidos, em que o Presidente da República tem tido uma palavra relevante na melhoria da legislação deve, segundo o PSD, ser decidido por sim ou não.
Pois, é esse o tipo de simplismo que os referendos impõem. Um tema com a profunda relevância social como a Eutanásia seria resolvido pelas pessoas com um sim ou não.
Em fevereiro de 2020 escrevi isto: “gostava de ter uma palavra a dizer sobre se quero continuar vivo, e não podendo ser eu a tratar do assunto, agradeceria a ajuda. Mas não sei se a minha opinião vai ser a mesma se esse momento chegar, se o que penso sobre sofrimento é igual. E esse possível sofrimento ter-me-á mudado? Serei eu a mesma pessoa que agora é capaz de pensar sobre o assunto? Terei tempo para mudar de opinião se a visão de um filho me der vontade de ficar, contra todo o sofrimento, mais uns minutos que seja a olhar para aquele ser que já se aninhou nos meus braços? Em que altura estarei no meu juízo perfeito? A verdade é que sei lá eu qual é o meu juízo perfeito”.
Continuo a pensar o mesmo. Imagino como é difícil para os deputados decidirem sobre este assunto e as dúvidas que eles também terão. Foi para isso que os elegemos, porém. Também por isto lhes estou grato.
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