Ontem, feriado, as filas de carros para as garagens dos shoppings eram longas. Nada de anormal, se tivermos em conta que estamos a 20 dias do Natal. No entanto, estamos no Natal de 2022, num país com uma taxa de inflação a bater nos 10%, onde as notícias dão conta de um novo máximo na taxa Euribor a seis meses (2,406%), a mais utilizada em Portugal nos créditos à habitação, onde para comprar o mesmo conjunto de bens essenciais é agora preciso gastar mais 35€ do que há nove meses (dados Deco/Proteste).
Sei que nesta época do ano todos ficamos um pouco mais sentimentalistas, que o espírito da partilha ganha outra cor. Gostava, por isso, de partilhar uma opinião mais positiva sobre o meu País, sobre o caminho que o governo está a trilhar para o futuro da Nação. Não consigo. Também não consigo concordar com a forma como o governo efetua a partilha com os portugueses.
Deverá estar a pensar que estou a escrever numa espécie de código. Não estou. Já aqui escrevi que a melhor forma de o governo ajudar o país, as empresas, a população, é baixando os impostos; subsidiar, com €125 ou qualquer outro montante, não leva a absolutamente lado nenhum. Ou melhor… leva! Conduz a situações como aquelas que o Jornal de Negócios denuncia sob o título “Pedir fiado e comprar menos. Os sinais de pobreza no pequeno comércio”.
Ler este texto foi como receber um murro no estômago. Recordou-me as conversas que ouvia em criança e que relatavam fome nalgumas cidades de Portugal, de quando não havia grande distribuição e as compras eram feitas na loja da terra e a conta era paga no final do mês, da sardinha de era alimento para 3 ou 4 pessoas.
Como é possível que em 2022, Portugal esteja a regredir para um estilo de vida tal como nos anos 60 e 70? Como é possível que a classe média esteja a sufocar (este mês ainda tem um pouco de oxigénio graças ao subsídio de Natal) e a desaparecer? Como é possível que em 2022, numa Europa liberal, e sublinho, Portugal seja o país onde as famílias fazem contas para poder comprar comida até ao fim do mês, andem ao sabor das promoções, se resignem com o nada que lhes sobra após o pagamento das contas, e fiquem felizes com um subsídio qualquer?
A economia já entrou em colapso, mas os governantes assobiam para o lado. É o modelo socialista – aquele que procura alcançar a igualdade entre os membros da sociedade – a funcionar, mas a nivelar por baixo, pois só assim consegue o controlo. Mas será isto que queremos para 2023? Nivelar por baixo? Como poderemos aquecer as nossas casas, fazer a mudança para sistemas energéticos mais limpos, alimentar e dar conforto à família, pagar a prestação ou renda da casa e eventuais créditos pessoais, entre tantos outros sonhos? Como poderemos inverter a pirâmide etária se os mais jovens não conseguem ser independentes, a menos que emigrem? Como podem as empresas inovar se não têm mão de obra e sufocam com impostos e taxas?
A confirmarem-se as previsões de outono da Comissão Europeia, que indicam que a Roménia (país que há 33 anos e em dia de Natal fuzilou o seu ditador, Nicolae Ceausescu) vai ultrapassar Portugal no PIB per capita já em 2024, é o sinal oficial (?) de que algo vai mal no país com as fronteiras mais antigas da Europa, que deixou de ser ditadura há 48 anos, mas que teima em não aprender com os erros do passado.
Se conseguimos fazer melhor? Conseguimos. Já o demonstrámos. Apenas temos de ter o líder certo e ajudantes de campo com visão. Tudo aquilo que neste momento não temos, mesmo depois de uma micro remodelação governamental.
Por estes dias as greves têm-se multiplicado, talvez com a bênção do Secretário-geral do PCP. Embora não sendo benéficas para o PIB, as greves abanam. Resta saber se cai!
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