Há muito tempo que ouvimos dizer que “quando a China despertar, o mundo tremerá”. A frase, que alguns atribuem a Napoleão e repetida durante décadas, pelos mais diversos motivos, nunca foi, no entanto, levada verdadeiramente a sério por quem a escutava ou lia. Havia uma explicação para isso: embora a profecia anunciasse um futuro plausível, tendo em conta a história milenar e a dimensão populacional do país, não deixava de nos remeter, em simultâneo, para uma realidade demasiado longínqua e, por isso, inofensiva. E mesmo que, ano após ano, Pequim fosse apresentando números de crescimento económico quase estratosféricos, isso não era suficiente para fazer crer que o “despertar” da China estava cada vez mais próximo. A diferença entre a China e o mundo desenvolvido continuava sempre a ser demasiado grande e, portanto, impossível de superar em poucos anos.
Além disso, havia ainda uma outra convicção enraizada no bloco ocidental: a quase certeza de que quanto maiores fossem a globalização e a abertura da China ao mundo, maior seria a probabilidade de o regime de Pequim colapsar, por pressão popular, à semelhança do que tinha sucedido na União Soviética. Nos anos a seguir à queda do Muro de Berlim, a China era, assim, vista como um enorme mercado à disposição das maiores empresas do planeta. E um mercado com dois sentidos em que, aparentemente, todos ganhavam: a China passou a ser a “fábrica do mundo”, produzindo tudo o que fosse necessário ao mais baixo preço, ao mesmo tempo que, com o crescimento económico conseguido por essa via, ia criando e aumentando classes médias e altas capazes de consumir, em quantidades impossíveis em qualquer outro lado, os melhores e mais caros produtos do Ocidente.