Mais a Norte, seguramente, muitos daqueles que com algum norte vivem, por dentro, com sentido e sentimento, as peripécias e as dinâmicas do Comércio (local ou de proximidade) compreenderão, ainda melhor, este “articulado” ou “jogo de palavras”, criteriosamente, escolhido para título da presente reflexão que pretende, também, assinalar a data de inauguração/ reabertura do Mercado Municipal do Bolhão.
Ironia, metáfora, desconfiança, prudência, malfadado pessimismo ou realismo prospetivo, foram, poderei afiançar, a quem lê, para além da simples junção de palavras, séria fundamentação inspiradora para chegar a tal “frase/titulo”, ainda que sob forma … interrogativa!
Noutros exercícios de prospetiva desenvolvidos, ao longo das últimas duas décadas, também sobre cenários prováveis para o futuro dos Mercados Municipais em Portugal, já tinha “chegado” a “narrativas”, diria, tão claras como curiosas (?), como sejam, “Não os Matem que Eles Morrem”, “Vão-se os Anéis, Ficam os Dedos”, “Se Não os Vences, Junta-te a Eles” e “Via Barcelona…” ou, visando uma maior (a)proximidade a Mercados específicos, por exemplo, para Lisboa – “Sem Eira, Nem Ribeira”, para o Porto – “Do Bom Sucesso ao (Tram)bolhão para Olhão – “Visão Futura com Olhão presente”, para Almada – “Mercado de Almada com a alma da praça para Portalegre – “Aberto como nunca, Alegre como sempre”, para Évora – “Todo o Alentejo num só Mercado”, para o Montijo – “MMM : Mercado Municipal do Montijo ou Muito Mais e Melhor”, entre muitos outros, então, pensados e elencados.
Não tão a Norte ou para os mais “desnorteados” nestas temáticas do Comércio de Proximidade, a reabertura do “novo” Mercado Bolhão não poderá passar indiferente, à luz das tendências atuais/emergentes ao nível da organização e gestão do equipamento municipal e/ou do formato comercial.
Por conseguinte, este dia 15 do mês 9 do ano da graça, para o Comércio, de 2022 ficará como marca indelével na História do Comércio, a qual, um dia, certamente, alguém entenderá eternizar pondo por escrito.
À (re)abertura do Mercado do Bolhão com honras de cerimonial pensado, onde Política, Economia, Arquitetura, Cultura, etc .. poderão até parecer ciências sintonizadas, entre si, de propósito comum, ainda que momentâneo, num ápice poderão suceder-se os despropósitos de outros tempos, reavivando as velhas questiúnculas, diria, enraizadas num “pensar Comércio” ou, melhor, na falta de um tal … “querer saber pensar” o mesmo.
A matriz identitária do Mercado Municipal do Bolhão jamais permitirá quaisquer veleidades a “alguém”, quem quer que seja, julgue ou pretenda ser, poder vir a questionar tal “apelido”. Bolhão sê-lo-á sempre e para todo o sempre, aconteça o que acontecer. Mais Comércio, mais Economia, mais Cultura, mais Património, mais Arquitetura, mais História, mais Cidade, mais que tudo isto e de tudo isto um pouco, a matriz está definida – usos, costumes, valores, tradições, ofícios e saberes tão ricos e singulares fazem do Bolhão aquilo que sempre foi e será.
Já em relação aos dois nomes “próprios” (Mercado e Municipal) poderão não existir tantas certezas, ou pelo menos, vir a dar-se azo a algumas incertezas, quiçá mesmo desconfianças.
Num futuro, bem longínquo, assim se espera e deseja, ressurgirão, por este ou por aquele, por bons ou maus, motivos, os tais (des)propósitos que de forma recorrente se vai aflorando : Será “apenas e só” Mercado (de retalho) e para sempre? Que peso poderão vir a ter na oferta a componente Restauração, Serviços ou outras?
Será “apenas e só” propriedade exclusiva do Município?
A um outro nível, em patamar distinto, mas tão crucial para o futuro, surge a questão da organização e gestão do equipamento municipal/formato comercial, o qual, aliás, pode muito bem ser o primeiro suscetível de poder espoletar outras situações acima referenciadas.
Atente- se, por exemplo, na criação de “estruturas paralelas”, em parceria, associação ou outra forma jurídica que se possa afigurar adequada, inclusive empresa municipal, poder vir a constituir-se como indício ou algo mais, seja do necessário (re)conhecimento de (in)competência, seja da necessidade de se recorrer a distintas competências para afirmação do formato e reafirmação do equipamento.
Estas e algumas outras nuances, a explorar noutra sede e noutros termos, não poderão ser escamoteadas naquilo que venha a ser um processo de “desenho” de futuros prováveis para o Mercado Municipal do Bolhão, mobilizando, envolvendo e responsabilizando todas as partes, vencendo as contradições, vivendo as tradições.
O foco passará, porventura, por fazer com que o Mercado do Bolhão, mais do que um exemplo a seguir, possa transformar-se num caso exemplar, não só para os restantes Mercados da cidade e do país, como para a construção e afirmação de uma nova filosofia para o Comércio de Proximidade assente numa conjugação entre Comércio, Cultura e Património.
Como novo Mercado do Bolhão ou Mercado do Bolhão novo, o seu futuro, longe de ser único, estará sempre condicionado pelas variáveis que desde sempre fazem do Comércio a arte da coincidência a que me tenho referido noutras sedes.
Serão os tempos e as vontades que farão o futuro do Bolhão, sendo que não se pode, nem deve, descurar o que se caminhou para se ter conseguido chegar a este dia.
Tantos “planos” se sucederam, tanta “tinta fizeram correr”, tantas palavras gastas ou investidas, mais “políticas” que “comerciais”, é certo, que aqui chegados, urge concluir que o melhor de todos os Planos será sempre aquele que se concretiza.
Quanto ao futuro do Bolhão, começa agora… e de novo!
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