O nariz é uma área com grande irrigação sanguínea onde confluem muitas artérias e veias que atravessam o pescoço. Esta confluência é particularmente rica na zona mais anterior do septo nasal, o chamado plexo de Kiesselbach ou área de Little, onde são inúmeras as ligações entre múltiplas pequenas artérias.
O nariz é a via respiratória preferencial e tem também a função de humidificação, de aquecimento e de purificação do ar inspirado. Está em contacto permanente com inúmeros agentes agressores (temperaturas extremas, poeiras, alérgenos, vírus, bactérias, entre outros) tendo necessidade constante de reestruturação. Assim, além de uma porta de entrada de doenças, é também um órgão vulnerável a outras situações como a hemorragia.
A hemorragia nasal, cientificamente designada por epistáxis, é uma das urgências mais frequentes em otorrinolaringologia, afetando pelo menos 60% da população geral. A epistáxis tem dois picos de incidência, um em crianças, geralmente antes dos 10 anos, e outro em adultos com mais de 40 anos.
A causa da hemorragia nasal é quase sempre desconhecida, ou seja idiopática. Contudo, a manipulação digital do nariz, o nose-picking, é uma frequente forma de trauma direto da mucosa nasal que muitas vezes passa despercebida ao à criança e aos pais. Esta manipulação pode originar crostas e colonização bacteriana da mucosa nasal, causando uma inflamação de baixo grau com hipervascularização e fragilização vascular que podem condicionar hemorragia.
As crianças têm o sistema imunológico em desenvolvimento e são, assim, mais propensas a infeções respiratórias e a crises de alergia, à medida que contactam com diferentes micro-organismos e alérgenos. Por exemplo, a rinite é uma inflamação da mucosa nasal resultante da reação do sistema imunológico a estas “novidades” do ambiente externo, que se manifesta pelo aumento das secreções nasais, congestão nasal causada por edema dos tecidos, espirros e comichão. A inflamação com aumento de vascularização, a formação de crostas, o assoar, o coçar, e o espirrar, são mais desafios que o nariz tem de enfrentar, e, sendo muito vascularizado, tem maior risco de sangrar.
Apesar de frequente, a epistáxis nas crianças é raramente um quadro clínico grave. Na maioria dos casos, o foco da hemorragia é no plexo de Kiesselbach e, portanto, facilmente controlada com pressão digital das narinas durante um período de cinco a dez minutos. No entanto, a recidiva é frequente, sendo o principal motivo de stresse e de diminuição na qualidade de vida da criança e dos pais. Nestas circunstâncias, é aconselhada a observação por um otorrinolaringologista. Não há um protocolo universal na abordagem da epistáxis, sendo a avaliação e o tratamento personalizados, este último passa geralmente pela hidratação com pomadas ou, eventualmente, cauterização química.