Há 28 anos, um bloqueio na ponte, em protesto contra o aumento das portagens, terminou em confrontos com a polícia e com uma carga policial sobre os manifestantes. Neste dia começou o fim do cavaquismo. Na minha memória tenho uma espécie de verão quente, politicamente falando, com os maiores partidos políticos a esgrimir argumentos em busca de um culpado.
Quase 30 anos depois, temos um país onde os confrontos continuam, mas agora não contra o aumento das portagens (que passaram a ser corriqueiros), mas por causa de futebol. Num país de brandos costumes, as notícias de desacatos após certos jogos de futebol até poderiam trazer alguma cor, não fosse o gravoso da situação e a forma como se fala ou resume a desordem na via pública. Refiro-me aos desacatos em Guimarães, que a PSP classifica como “pequeno incidente”, enquanto os vídeos publicados nas redes sociais dão conta de tochas arremessadas para o espaço público e contra edifícios, sons de vidros a partir. Em fotografias também publicadas nas redes sociais vêem-se esplanadas danificadas.
O que falha? De certeza que organização, pelo menos. Leio que os desacatos eram esperados para a cidade do Porto, onde o Corpo de Intervenção estava posicionado. Leio também terem sido destacados 80 homens da Unidade Especial de Polícia de Lisboa, que seguiram viagem para Guimarães depois de terem feito um turno de 12 horas. Ou seja, que esses homens trabalharam mais de 30 horas seguidas.
O mais caricato de tudo isto, é que em Braga, a escassos 10min dos desacatos, a GNR tinha uma brigada do corpo de intervenção rápido, pronta a actuar. Mas por mera estupidez territorial quanto à jurisdição de cada corporação, não foi sequer informada. Lembram-se de uma célebre passagem de testemunho em Évora na escolta das Vacinas para o covid? Nesse caso foi só ridículo, agora foi grave, porque a ordem pública e a segurança de pessoas e bens foi posta em causa.
Os problemas na administração interna não ficam por aqui. Se olharmos para os bombeiros, muitos deles voluntários, são horas e horas de trabalho em incêndios em zonas onde a morfologia lhes é completamente desconhecida. Sendo que o líder da Liga de Bombeiros Portugueses refere haver descoordenação no terreno pela falta de uma só voz de comando e meios inoperacionais, enquanto a Proteção Civil diz que a resposta está a ser dada dentro das contingências do terreno e do tempo.
Perante situações como estas, é de questionar por onde anda o Senhor Ministro da Administração Interna? Será que este tipo de dossier atual não lhe chega? Será que as pastas que tutela também necessitam dos préstimos de um CEO, tal como o SNS?
Se assim for, para quando a coragem de deixar de ter um governo com ministros e, ao invés, ter CEO’s? Figuras escolhidas pelo mérito e não pelo apelido ou cartão de militante? Colaboradores que olham a gestão do país inspirados nos modelos privados de gerir, mas onde o fim não é dar lucro, mas prestar serviços?
Portugal precisa de um rumo. A oposição parece ter ido a banhos ou continuar em banho-maria. Até quando vamos continuar assim?
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