Sabemos há muito que partidos conotados com a esquerda são exímios a comunicar, que são exímios a transformar situações nublosas em dias de sol. Foi assim com Sócrates, está a ser assim com Costa. Poderia enumerar várias situações, passadas nos governos de um e de outro, mas vou focar-me naquela que me está a irritar e a levar-me a pensar que somos um povo ingénuo, que ainda acredita em quem nos representa na casa da Democracia, que ainda não percebeu que o maior partido da oposição hibernou.
Na base desta minha irritação está o preço dos combustíveis, que em Portugal ultrapassou a barreira dos €2 por litro, que leva condutores a passarem longos minutos em filas para atestar o depósito do seu veículo e assim poupar uns cêntimos, que leva o governo a “dar baile” aos portugueses durante quase um ano. É verdade que tudo isto não passaria da lei da oferta e da procura, da conjuntura, do preço do barril de brent nos mercados, da guerra, se nestes últimos dias não tivesse caído o véu a António Costa e o País descoberto que afinal é possível baixar o preço dos combustíveis.
Como? Para o português comum é indiferente se a baixa do preço dos combustíveis é devida a mexida no ISP ou no IVA; o que verdadeiramente interessa é quanto temos de desembolsar de cada vez que “metemos combustível”. E, para isso, o português comum confia nos seus governantes, que (supostamente) desenham as melhores estratégias para servir o país, confia nas entidades reguladoras. Mas, com este governo não tem sido assim ao nível dos combustíveis, não é assim ao nível da saúde – um tema que irei abordar muito em breve.
Ao longo dos últimos meses temos assistido a uma espécie de apontar de dedo por parte do governo às gasolineiras, que praticam(?) margens elevadas, e nunca ao próprio governo que é responsável pela fixação de impostos. Enquanto cidadão fui levado pelo governo a apontar o dedo a Bruxelas, que não permite baixar o valor do IVA – e aqui é verdade. Pelo meio ainda tivemos os portugueses a serem “iludidos” com os milhões do AUTOvoucher, um programa de apoio do governo, que surgiu após o lançamento do IVAucher, focado nos postos de abastecimento de combustível e que permitia (nunca percebi como) aliviar a carteira dos portugueses e amenizar as consequências da pandemia e da inflação dos preços.
Apetece-me fazer uso do calão, uma asneira no momento certo, é um exercício de paz, mas não o irei escrever. Antes tenho de questionar o que leva um primeiro-ministro a não ser verdadeiro para os 2.246.637 eleitores que votaram no seu partido e que lhe permitiram tomar posse como chefe do Governo da República Portuguesa? E o que leva a oposição, entenda-se o maior partido da oposição, a ser conivente com tudo isto?
Costa gosta de ameaçar (fê-lo com as gasolineiras, por exemplo), é um eximindo gestor de comunicação política, mas Portugal, que é uma democracia prestes a comemorar meio século de vida, tem de mudar. Tem de fazer um “reset”, mas para isso não podemos suspender por uns meses a democracia para se poder fazer todas as reformas necessárias e só depois, então, repô-la, como ironizou Manuela Ferreira Leite em 2008. Mas que é urgente fazer algo… disso não tenho dúvidas. Que tal começarmos por ter uma verdadeira oposição na casa da Democracia? Por termos uma oposição que não tem medo de se mostrar nas ruas?
O nosso País merece mais, muito mais.
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