A atual situação pandémica, com as limitações que impõe à pré-campanha e campanha eleitorais, confere ainda maior relevo aos debates televisivos, de que elas dependem fundamentalmente para os resultados do sufrágio de 30 de janeiro. Assim, esses debates só podem ser encarados e conduzidos tendo como único objetivo o esclarecimento dos cidadãos em ordem a permitir-lhes uma opção informada, consciente. O que exige terem regras muito claras; e moderadores civicamente muito responsáveis e profissionalmente muito competentes.
Nas presidenciais de 2021 não foi isso que aconteceu. Pelo contrário. Escrevi então, a tal propósito, aqui na revista; e depois no seu site, a 8 de janeiro, num texto intitulado “Chega de debates viciados”, no qual analisava o que se estava a passar. Considerando-o “inaceitável e mesmo escandaloso, em termos democráticos”, pela “forma como tem sido permitido transformar os debates em espetáculos (…) propiciadores de enormes injustiças e desigualdades. Como se numa qualquer competição desportiva o infrator fosse sempre o beneficiado, quem aplica toda a espécie de golpes baixos (…), impedindo o adversário de jogar, dessa conduta imprópria colhesse ainda benefícios”.
O que então escrevi mantém a atualidade e a pertinência. E será ainda mais grave a situação repetir-se. Porque tudo de mau a que nas presidenciais se assistiu, quase por sistema em benefício do candidato André Ventura, não punha em causa a única escolha em pauta, a do Presidente da República, seguramente Marcelo Rebelo de Sousa. Enquanto agora é muito diferente: trata-se de escolher entre múltiplos partidos e eleger 230 deputados. Por isso entendo justificar-se insistir no tema e remeter para o que sobre ele então disse e sustentei.
Dos três debates realizados até à hora em que escrevo, sem entrar no seu conteúdo, no entre António Costa e Rui Tavares o moderador da RTP não interrompeu constante e injustificadamente como nas presidenciais – um avanço… Nos debates de André Ventura com Catarina Martins e Rui Rio, na SIC Notícias e na SIC, já se pode assinalar a repetição, embora em menor grau, de lastimáveis erros referidos nas presidenciais. Além de na SIC a moderadora não ter deixado, logo no início, o líder do PSD completar sequer uma sequência expositiva, ambas permitiram ao chefe do Chega interromper ou falar em cima de quem estava na sua vez de intervir e fazer-lhe perguntas como se fosse a ele que tal competisse.
Para agravar a situação, quando isso acontece em geral a câmara muda o “foco” de quem está no uso legítimo da palavra para Ventura – o mesmo sucedendo quando ele usa o estafado truque de mostrar um recorte de jornal ou um papel qualquer que para o efeito traz artilhado. Ora, é também sobre este e outros procedimentos ou golpes baixos que tem de haver regras, orientações claras – que competem às direções de informação –, visando impedir o que além do mais é jornalística, cívica e moralmente inadmissível. (E já não não entro em outros domínios, como se o moderador deve ou não dizer alguma coisa quando um “debatedor” falta inequivocamente à verdade dos factos e/ou afirma coisas como beneficiários do RSI andarem de Mercedes…)