No plano político, não me custa reconhecer que o ministro Pedro Nuno Santos obteve uma importante vitória com a decisão da Comissão Europeia sobre o plano de reestruturação da TAP. Esta vitória é tanto mais expressiva quanto os remédios impostos por Bruxelas não parecem transformar a companhia aérea na tão propalada “Tapzinha” que o ministro chegou a recear. Chapeau.
Acontece que tenho dúvidas sobre se aquilo que é indiscutivelmente uma boa notícia para Pedro Nuno Santos é necessariamente um bom augúrio para o País. E as minhas dúvidas fundam-se em três aspetos principais.
Desde logo no suposto interesse estratégico que a TAP teria para o País. Estou muito longe de ser um especialista em aviação civil pelo que me limito a recomendar, a este propósito, a leitura de um pequeno ensaio recentemente publicado por Carlos Guimarães Pinto e André Pinção Lucas (Milhões a voar – As mentiras que nos contaram sobre a TAP) em que se desmonta boa parte dos argumentos que o Governo tem usado para justificar a injeção de 3 000 milhões de euros de dinheiro dos contribuintes. Nem a importância da TAP para o turismo, nem a importância da TAP para a balança comercial, nem a sensível questão do emprego são argumentos que parecem resistir a uma análise mais fria e desapaixonada de factos e números.
Depois permito-me ter reservas em relação à viabilidade da TAP. É verdade que a comissão caucionou a estratégia do Governo português e que o terá feito convencida de que a empresa poderá sobreviver a longo prazo sem mais injeções de capitais públicos. Mas o meu ceticismo tem a vantagem de estar solidamente ancorado na história. Nos dez anos anteriores à pandemia, a verdade é que a TAP deu prejuízo em nove. É preciso muito boa vontade para acreditar que vai ser agora, num cenário pandémico e pós-pandémico, com custos de matérias-primas mais elevados e com uma gestão pública, que se vai dar o milagre. Vamos ter de esperar para ter a certeza e nada me daria mais prazer do que estar enganado. Mas, até ver, e pelas razões invocadas, julgo que qualquer português tem direito a guardar um prudente ceticismo.
Finalmente falta falar de um conceito económico muito útil para este tipo de discussões: o custo de oportunidade deste resgate. Mesmo que tudo isto fosse verdade, mesmo que por um momento acreditássemos que a TAP presta um serviço insubstituível ao País e que tem à sua frente um futuro radioso, faltaria ainda saber se, mesmo assim, a companhia aérea seria o melhor destino para 3 000 milhões de euros dos contribuintes, num país sobreendividado e com tantas carências. Entre um sistema de saúde a rebentar pelas costuras, uma escola que continua sem cumprir o seu papel crucial de equalizador social ou as infraestruturas ferroviárias que não temos, é natural que cada um escolhesse as prioridades de forma diferente, até de acordo com as suas inclinações políticas. Permito-me é ter dúvidas de que, sendo-lhe dada a escolha, uma turba de contribuintes convergisse na ideia de que a TAP é a prioridade das prioridades das políticas públicas do País.
Termino como comecei. Estamos perante uma inegável vitória política de Pedro Nuno Santos. Mas nestas coisas vale a pena lembrar os clássicos e, em particular, vale a pena citar Pirro do Epiro: “Mais uma vitória como esta e estarei perdido.”
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