Portugal tem tido ao longo do tempo, mormente após o 25 de Abril, muitas originalidades políticas. Positivas e negativas. Uma destas, não das menores, é que numa simplista ou primária divisão em dois “blocos”, o da esquerda e o da direita, o da direita tenha como força liderante – ou a reboque… – um Partido Social-Democrata (PSD)!
Diz-se que hoje estamos na Europa – e (também) estamos. Ora, onde já se viu, na Europa, da Alemanha à Suécia, em qualquer país, um partido social-democrata considerar-se ou admitir ser de direita? Mais, ser a força principal de um bloco como tal assumido? E receber remoques por não ser suficiente ou ardorosamente de direita, fazendo uma oposição mais agressiva ao Governo? Um bloco, sublinho, que pensando só numa retomada do poder, pode integrar, integra, um partido desrespeitador de princípios essenciais da democracia e dos Direitos Humanos como o Chega…
Vem isto a propósito do recente encontro promovido pelo MEL. Se em teoria se tratava de um fórum de reflexão e debate, todos o classificaram como, de facto, uma espécie de “congresso das direitas”. Tendo como principal objetivo um futuro entendimento para o seu almejado regresso ao governo. Objetivo, aliás, segundo os comentadores dessa área, fracassado em si mesmo e na evidência da falta de ideias e propostas credíveis.
“Congresso das direitas”, pois, que encerrou com a intervenção do atual líder do PSD – a afirmar-se centro. E que teve como principal “estrela”, silenciosa, o seu antecessor à frente do partido (social-democrata), graças ao qual o hoje chefe todo-poderoso do dito Chega foi candidato a uma das maiores autarquias do País. Por isso tendo até o CDS rompido a coligação com o PSD.
Além destas originalidades, ou ainda antes delas, parece-me negativo para a democracia e para o País a divisão em dois blocos. Uma coisa é ser bom, até necessário, haver projetos distintos e alternativas claras sobre grandes temas, quando os cidadãos são chamados a eleger os seus representantes, outra é cristalizarem-se blocos, aliás em larga medida artificiais e sem coerência. Com todos os prejuízos daí decorrentes, em particular em termos de diálogo e possibilidade de acordos em domínios que estão à margem ou ultrapassam a tradicional distinção esquerda-direita – sem prejuízo da pertinência que em geral tal distinção mantém.
Creio que para o atual estado de coisas contribuíram, de forma decisiva, as posições tomadas por PS e PSD de recusa total de qualquer hipótese de solução de bloco central, posições a que não foram alheias razões circunstanciais e eleitoralistas. Mas se sei os inconvenientes e perigos de um “bloco central” e penso que tal solução não é a desejável – aliás ninguém de quem hoje comenta a política o terá escrito antes de mim… – isso não deve conduzir à negação absoluta da sua possibilidade: não se deve criar um novo “dogma”, como o que impunha um “arco da governação” sem o PCP.
E muito menos deve conduzir a uma formação de “blocos”, e à degradação das relações entre PS e PSD, com nefastas consequências para o diálogo e para os acordos que, um no Governo e outro na oposição, seja de manifesto interesse nacional os dois partidos celebrarem.