1 – A intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa no 25 de Abril foi, em todas as perspetivas, notável. E constituiu uma vitória, do 25 de Abril e sua, o ser aplaudida de pé por todos os partidos democráticos representados na Assembleia da República (AR), de um extremo ao outro do hemiciclo. Sentado e imóvel, o único representante do partido não democrático: sem camisa negra, que agora não se usa, mas de cravo negro. Uma forma de reforçar a unanimidade do aplauso.
Claro que pode haver sempre objeções, mesmo formais, a colocar. Por exemplo, o Presidente falou de “mais de um milhão de portugueses que serviram pelas armas o que entendiam ou lhes faziam entender constituir o interesse nacional” – quando imensos, decerto a maioria deles, “serviram” na guerra colonial só por serem obrigados, não por de qualquer forma a “entenderem”. Adiante.
Um excelente, muito inteligente, lúcido e bem escrito texto, que além do resto mostra uma vez mais que Marcelo é politicamente um artista. Como o foi na formulação do seu não veto à ampliação dos apoios sociais aprovados na AR – mas dessa vez, contra a corrente, (quase?) só aqui se teve tal entendimento. Um artista, português, nos vários sentidos que a expressão tem.
2 – Foi, assim, uma boa comemoração esta dos 47 anos da revolução de 1974. Como acabou por o ser, dentro das limitações impostas pela pandemia, a que se concretizou nas ruas, em particular no desfile na Avenida da Liberdade, em Lisboa. Para lá de um incidente ou mal-entendido desnecessário, que os do costume como de costume aproveitaram para ampliar/explorar, repetindo uma evidência que quem o fez sempre reconheceu e proclamou: o 25 de Abril não tem donos, embora tenha autores.
3 – Foi também uma comemoração, muito especial, zero mortes por Covid nesse dia 25, como se soube a 26. Aliás a situação, no que respeita à incidência da pandemia, melhorou e continua a melhorar de forma consistente, mesmo espetacular, e Portugal parece ter passado de pior a melhor país da Europa, se não do mundo. E o que dizem agora aqueles que, antes, esculhambaram meio mundo, sobretudo o Governo, e dentro dele António Costa e Marta Temido? O que diz Cavaco Silva, o da “democracia amordaçada”? Nada. Num amplo setor de ditos comentadores, e afins, existe um “panorama” que seria interessante analisar, tentar saber o que significa, representa, para a democracia e o País.
4O oficial mais velho e graduado com intervenção no movimento militar que derrubou a ditadura foi Vasco Gonçalves, então coronel. Seria depois primeiro-ministro de quatro governos provisórios – e após um inicial alargado leque de apoios, seguiu-se uma cada vez maior contestação e identificação com o PCP. Dos militares da revolução o “companheiro Vasco” foi dos mais amados e odiados. Uma figura singular, de que agora falo porque o seu centenário de nascimento é no próximo dia 3 de maio. Fiz-lhe a que foi a sua última entrevista, menos de dois meses antes de morrer (a 11 de junho de 2005), a qual dá um expressivo retrato de quem foi e do seu percurso – podendo ser agora lida no site da VISÃO.
(Opinião publicada na VISÃO 1469 de 29 de abril)