Não pretende este texto fazer considerações do domínio da física ou da filosofia mas apenas divagar um pouco sobre a importância escondida destes dois fatores na nossa vida quotidiana. E vem isto a propósito da revolução que a atual pandemia e os confinamentos estão a provocar na vida de toda a gente.
Exigem-se decisões imediatas para responder às exigências da situação mas levantam-se as dúvidas relativas ao que vai mudar e como para além da pandemia.
Esta situação está a obrigar as pessoas e as empresas a repensar os seus critérios no que diz respeito a como habitam e trabalham, sendo que a fronteira entre as duas se tem esbatido numa linha muitíssimo ténue para uma parte significativa da população que entrou num regime de teletrabalho.
Não havendo receitas transversais, aguçou-se a percepção da importância do espaço que habitamos poder ter de acomodar condições que se associavam ao trabalho, o que levou a um aumento da procura de habitação que pudesse acomodar uma divisão com esse fim e que preferencialmente ofereça espaço exterior que permita confinamentos impostos ou voluntários mais prazenteiros.
Ao mesmo tempo as empresas olham para os seus imóveis de outra forma. A tecnologia provou ter capacidade de resposta para os colaboradores poderem operar virtualmente de qualquer local, o que implica automaticamente que os espaços de escritórios no futuro passarão a ser utilizados de outra forma.
O escritório passa a ter como principal função precisamente aquilo que o teletrabalho não permite: a partilha de ideias, de cultura empresarial e a socialização dos colaboradores.
E onde entra o tempo nesta equação? Com a flexibilização de horários e o trabalho a partir de casa tornou-se relevante o tempo que é perdido nas deslocações, sem benefício do colaborador ou da empresa, numa perda óbvia de qualidade de vida e produtividade, sem falar nos custos ambientais. Tem uma lógica inquestionável, que o tempo ganho nessas deslocações pode ser usado em benefício direto da qualidade de vida das pessoas ou da produtividade das empresas.
Sendo que os recursos que dão título a este texto têm um valor económico significativo e veja-se quanto todos gastamos para podermos ter o nosso espaço e pagamos a pessoas para fazerem tarefas com as quais não queremos perder tempo, torna-se absolutamente imperioso avaliarmos enquanto indivíduos e organizações, de forma criteriosa, como os gerimos.
Existe também um efeito cascata nesta racionalização, que se traduz num novo urbanismo, numa arquitetura inovadora e em redes de transportes e comunicações mais eficazes.
Estamos a desenhar o futuro do nosso espaço físico mas principalmente a forma como vivemos. Estamos ainda na cauda da Europa no que diz respeito à relação entre o número de horas de trabalho e a produtividade. É fundamental alterar esta situação para o país progredir e as pessoas viverem melhor. Não se trata de trabalhar mais mas de trabalhar melhor, o que só será possível se conseguirmos reunir melhores condições.
Há custos financeiros inevitáveis e é necessário investir de forma racional mas o peso fundamental deste progresso passa muito pela capacidade de quem toma decisões, sejam políticos, gestores, ou cada um de nós na sua vida pessoal, poder olhar para a frente e ver com clareza, lá onde ainda não existe nada.