O “painel” dos candidatos presidenciais relevantes ficou consolidado com o anúncio das três candidaturas que adiante comento. Falta só assumir-se como tal o mais óbvio e certo, salvo qualquer extraordinário percalço: Marcelo Rebelo de Sousa. O atual Presidente confirmará a sua candidatura, e bem, o mais tarde possível, sendo absurdo chamar a isso um “tabu”.
Marisa Matias é a candidata do Bloco de Esquerda (BE). Como esperado, dado o muito bom desempenho e resultado que teve em 2016. Preparada, suscitando simpatia e mesmo empatia, firme nas convicções mas nunca agressiva, antes aberta e dialogante, debatedora capaz, o BE não podia apoiar melhor candidata. Marisa ultrapassa, aliás, as fronteiras do partido que tem nas “três não Marias” – Catarina (Martins), Mariana (Mortágua) e ela – os seus principais trunfos.
João Ferreira foi o escolhido pelo PCP. Havia uma incógnita, não houve uma “surpresa”. Porque Ferreira já foi candidato à presidência da câmara da capital e nº 1 da lista ao Parlamento Europeu – sendo hoje, em simultâneo, eurodeputado, em Bruxelas, e vereador, em Lisboa. Vê-se que estuda as matérias e os dossiês, é competente, trabalhador, um “quadro” no “quadro de honra” do partido. Mas não mais. E só pode aspirar a manter o eleitorado mais fiel do PCP.
Ana Gomes, enfim, assumiu a sua candidatura – como, após estes meses de “reflexão” e certos acontecimentos, se me afigurava mais do que provável. Quando essa hipótese se colocou, dediquei-lhe este comentário (VISÃO 1421, de 28 de maio), pondo em evidência “as suas muitas qualidades”, o respeito e até admiração que tenho por ela. Salientando, no entanto, preferir que não fosse candidata: “Porque – escrevi – creio melhor para os combates que corajosamente trava a vários níveis, e por isso para o País, não o ser do que sê-lo…”
Espero, desejo, enganar-me… E voltarei ao tema, que tem muitos ângulos de abordagem. Entretanto, e embora as circunstâncias sejam diferentes, também espero que Ana Gomes não fundamente a sua candidatura em qualquer alegada “razão” partidária, como fez Maria de Belém em 2016, com os resultados que se conhecem. E o temor de que lhe aconteça algo de semelhante ao que aconteceu à ex-presidente do PS é uma das razões para preferir que não se candidatasse.
OS ERROS MAIORES DE COSTA… E DE RIO Como toda a gente, os políticos erram. Mais ou menos, conforme a sua qualidade. António Costa (AC) é dos que têm errado menos, político de primeira água – e não só “habilidoso”, como alguns dizem para o desvalorizar. Espanta, por isso, tenha cometido um erro dos maiores, incompreensível e injustificável: o apoio público a um candidato à presidência do Benfica, suspeito ou arguido em vários processos-crime. Não costumo “repetir” o que já tantos disseram. Faço-o, neste caso, porque tendo não poucas vezes elogiado AC e o saldo muito positivo do seu Governo, julgo imperioso fazê-lo. Na mesma linha, tendo por igual aqui realçado diversas posições de Rui Rio, vítima de violentos ataques dentro do seu partido, refiro o seu grave erro ao admitir um eventual entendimento com um Chega mais “moderado”. Falei de erros, poderia falar de “falhas” de conduta(s). Infelizmente.
(Opinião publicada na VISÃO 1437 de 17 de setembro)