Terminou finalmente o campeonato nacional de futebol, o mais longo de que há memória. Nunca será esquecido, mas dificilmente será lembrado pelos grandes espetáculos. A competitividade pelo título de campeão, resolvido já perto do fim, não esconde o que foi uma prova de qualidade muito pobre, destacando-se pela positiva as prestações do Rio Ave e do Famalicão, que ficaram no quinto e sexto lugares, respetivamente. O Braga merece igualmente uma palavra, ao atingir um importante terceiro posto.
Lá para cima, o Futebol Clube do Porto ganhou porque errou menos do que os adversários, nomeadamente o Benfica, que juntou ao mau futebol de praticamente toda a época uma derrocada de resultados na retoma após o confinamento. A grande desilusão terá sido o Portimonense, que desce de divisão apesar de ter um conjunto de jogadores talentosos e de, em épocas anteriores, ter mostrado um futebol de qualidade. Enquanto representante do Algarve, será na próxima época substituído pelo histórico Farense, 18 anos depois de ter abandonado a primeira divisão.
A pandemia veio gerar confusão, mas não é responsável pela perda de qualidade geral das nossas equipas (basta ver a muito fraca prestação nas provas europeias). Para um observador comum, não é fácil encontrar uma estrela destacada no nosso campeonato e não se vislumbram grandes possibilidades de vendas milionárias, como em anos anteriores. A progressiva asfixia financeira de muitos clubes e a falta de acerto de outros, como o Benfica, deixou a prova mais fraca, menos interessante, menos entusiasmante. Num espetáculo, a ausência de artistas paga-se caro.
O principal problema é esse, a pandemia ter chegado num momento em que o nosso futebol já estava em crise e em processo de acelerada divergência face às grandes ligas europeias.
Esse é o tema de capa da Exame de agosto, que chega esta semana às bancas. Numa extensa análise, a conclusão é praticamente unânime: tal como aconteceu na sociedade, a crise da Covid-19 veio acentuar as desigualdades, afetando mais quem já era mais frágil. E isso, para o nosso futebol, significa ainda menos capacidade financeira, menos receitas importantes e, muito provavelmente, que se cave ainda mais o fosso para as cinco principais ligas do Velho Continente.