As imagens do assassínio, a sangue-frio, com uma indiferença e uma crueldade repugnantes, do cidadão norte-americano George Floyd, negro, 46 anos, por um polícia, Derek Chauvin, que estando ele algemado, estendido no asfalto, lhe comprime o pescoço com o joelho durante 8 minutos e 46 segundos, ficará na História como a famosa foto de Eddie Adams que mostra, de frente, o cidadão vietnamita Nguyen Van Lem com uma pistola apontada à cabeça, a 20 ou 30 cm da sua têmpora direita, pelo general Nguyen Ngoc Loan, que com um tiro o executa, ou abate.
Esta execução foi no Vietname, em tempo de guerra, e sangrenta, numa rua de Saigão, a 1 de fevereiro de 1968, logo no início da “operação tet” dos vietcongues (Frente Nacional para a Libertação do Vietname) para conquistar as principais cidades do país, sendo Nguyen Van Lem um alegado dirigente vietcongue. Aquele assassínio foi a 25 de maio de 2020, numa rua da cidade de Minneapolis, Minnesota, em tempo de paz, e de Trump, sendo George Floyd detido porque a polícia recebera um telefonema a acusá-lo de ter pago um maço de tabaco com uma alegada nota falsa de 20 dólares.
No primeiro caso temos uma foto de uma sequência que vai da prisão de Van Lem ao seu corpo por terra após o tiro que o abateu. No segundo temos vídeos que mostram também desde a detenção de Floyd até esses terríveis 8 minutos e 46 segundos em que o polícia lhe comprimiu o pescoço até à morte. Indiferente ao rogo do homem que balbucia “não consigo respirar”, como se não fosse um homem que estivesse ali sob o seu joelho, ou sequer um animal a merecer compaixão, mas um réptil venenoso. O polícia tendo à volta mais três polícias que colaboram, não deixando ninguém aproximar-se. E o homem algemado, com a cara no asfalto, que de novo balbucia, implora, “please”, “não consigo respirar”. E o polícia olhando para o lado, como se não fosse nada com ele, a mim parece-me que com um ar de quem está a gostar da situação, a gostar daquela sensação de poder, o poder absoluto sobre o negro (o homem?…) que lenta e friamente vai asfixiando, matando. Matando com o joelho sobre o seu pescoço: ninguém poderá dizer que o negro Floyd morreu às brancas mãos de Chauvin, morreu sob o seu joelho − um joelho muito antigo e seguramente muito temente ao seu deus e muito orgulhoso da sua pátria, poderosa e também branca, “first”, acima de tudo, como diz o outro. Morreu sob o seu joelho, durante uns eternos 8 minutos e 46 segundos. Eternos, porque pareciam não acabar. E porque de facto não acabam e estas imagens ficarão para sempre. Tendo consequências. As imediatas, estão-se a ver. As outras…
Mas se neste caso, a vários títulos exemplar, pelo “horror”, as imagens, que correspondem às de uma “curtíssima-metragem”, dizem tudo, na maioria dos casos não há imagens, mormente do que ocorre dentro de instalações policiais. Se as houvesse do que durante longas horas ocorreu com o cidadão ucraniano morto no SEF, no aeroporto de Lisboa, estaríamos perante uma “longuíssima-metragem” e com cenas porventura não menos terríveis… E o Portugal humanista, democrático, decente, exige, como já aqui referi, urgência no apuramento e na divulgação de todos os factos, com todas as consequências.