Parecia difícil, quando fomos confrontados com o avanço da pandemia, nos idos de março, mas até correu bem. A polémica sobre a necessidade ou não do estado de emergência ficou rapidamente ultrapassada e, até por iniciativa própria, muitos portugueses começaram a fechar-se em casa. O País, de facto, recolheu-se e acatou, de um modo geral e sem sobressaltos, os pedidos das autoridades.
Fechar foi, em certa medida, um motivo de união. Um objetivo comum e específico: era uma forma de nos salvarmos e de salvarmos os outros. Só havia, nesse tempo, uma opção: resistimos juntos, como escrevemos, então, na capa da VISÃO. Em casa, podíamos passar dias sozinhos, mas sentíamo-nos a fazer parte de um todo que estava, como nós, a aceitar a mesma decisão. Fechar foi, durante semanas, a melhor forma de sermos solidários. E isso ajudou a criar laços que pensávamos já não poderem existir e até a iniciar outros, na vizinhança, que antes considerávamos improváveis.
Se fechar o País foi fácil, reabri-lo vai ser, isso sim, a tarefa mais difícil e exigente de todo este ciclo novo que estamos a viver. Quando fechámos, fizemo-lo num movimento coletivo quase simultâneo, sem nos preocuparmos com as consequências futuras, mas apenas com o imediato, e a necessidade de estancar a progressão de novos casos de contágio. Já não é isso que se passa.
Agora, é mesmo o futuro que está em causa, a necessidade de garantir que os empregos se mantenham, que o comércio não asfixie, que todo o tecido económico consiga sobreviver, porventura reinventando alguns setores. E, acima de tudo, tentar não deixar ninguém para trás.
Para abrir, não bastam apenas a boa vontade e o voluntarismo da população. Vai ser preciso mesmo um espírito solidário ainda maior do que aquele com que enfrentámos a primeira vaga do vírus. Vai ser preciso injetar dinheiro mas também redistribui-lo melhor. Vai ser preciso ter mais transparência em todos esses processos e uma maior responsabilização de todos – tanto dos que apoiam como dos que são apoiados. Se o fechar foi um momento de união de um povo, o reabrir não pode ser o fator de desunião. É esse o risco dos próximos tempos mas também o nosso maior desafio.