Olho para as maravilhosas fotos que o Zé Carlos, profissionalmente conhecido como José Carlos Carvalho, me manda por e-mail e penso na minha mãe, já depois de ter bebido alguns copos de branco. Penso nela, e na mãe dele, e em todas as mães, que por estes dias acompanharam as celebrações pascais, do sofá das suas salas, agarradas ao terço, na esperança que ele as salve, e a todos nós, deste maldito vírus.
Normalmente, estariam em igrejas, a comungar com a sua comunidade. Estaríamos todos à mesa com elas, a comer cabrito ou algo que nos preparassem com o carinho habitual. E muitas sobremesas, e acabaríamos todos enfartados, mas em amena cavaqueira, e talvez com um grãozinho na asa, como manda a tradição dos bons encontros familiares..
Apesar de estar apenas a sete quilómetros da minha mãe, não estive hoje à sua mesa – e que mesa, sempre bem posta e bem recheada. Tentámos aproximar-nos o mais possível, encomendando comida do mesmo restaurante e partilhando vídeos, fotografias e chamadas virtuais com os que nos são mais queridos. Mas ainda assim, houve lágrimas e tristeza – e eu estou aqui, ao computador, a escrever este texto, em vez de me sentar na sua sala.
Mas adiante, que o Zé Carlos ainda não parou desde que iniciámos este trabalho, na 5ª feira ao final da tarde, na missa da Ceia do Senhor, na igreja de Nossa Senhora da Penha de França, e merece que eu dê forma a esta galeria. Começámos este trabalho, juntos, porque ele achou que faria sentido. Que poderíamos mostrar a todos os cristãos que não estão sozinhos nesta Páscoa, que tem de ser vivida do sofá, como a minha mãe, como a mãe dele.
Depois, deixei-o à sua sorte, para dar largas ao que melhor sabe fazer. Estava convicta de que faria um excelente trabalho. Conhecemo-nos há um ror de anos, já palmilhámos imensa terra por aí, perdemo-nos várias vezes, sempre lado a lado, sem restrições sociais. E ele sabe como admiro o seu trabalho atrás de uma máquina fotográfica.
Desde quinta-feira, falámos muito ao telefone, para ir acertando as pontas. Hoje, domingo, ao final da manhã, disse-me que terminara a reportagem, que tinha sido muito bom andar ao lado do Padre Edgar Clara, que já me enviava o resultado do que fizera por estes dias. E acordámos que a história devia ser contada de trás para a frente, para ter mais atualidade.
Mas pelo meio, meteu-se o nosso almoço de Páscoa – se não me engano, ele teve os seu pais sentados à mesa de casa e comeu maranhos que comprámos na última reportagem que fizemos juntos. Eu, além da refeição saborosa que partilhei em família, bebi vinho e troquei fotos no Whatsapp com ele. Disse-me que assim, depois de um bom branco – Carm, reserva 2011 – o texto sairia melhor. Não tenho a certeza, mas agora já está.
Estou aqui, de coração pequenino, a escrever estas linhas, enquanto um padre passa lá em baixo, de corpo de fora de um Smart descapotável, qual pop star, seguido de uma carrinha dos bombeiros, com um altifalante que debita “aleluias” e desejos de boa Páscoa. Na minha varanda partilhada, esperam-me os vizinhos de confinamento, para continuarmos a brindar, à distância, que é o que nos resta por estes dias. A Páscoa quase que já passou. Venha de lá o que tiver de vir, estamos juntos, ainda que separados, e isso é o que importa.