Não resisto a comentar uma das tiradas do novo presidente do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos (FRS), vulgo Chicão, a encerrar o Congresso que o elegeu. E não resisto porque acompanhei e “compreendi” o CDS desde o início, fui amigo de seus fundadores, dei em primeira mão a notícia da sua criação – e muito mais, como aqui recordei na morte de Freitas do Amaral (VISÃO 1388, de 10 de outubro passado).
No seu discurso, que quis mobilizador, unificador, FRS proclamou querer “um CDS à CDS”. Mas que será, para si, “um CDS à CDS”? Na unânime opinião dos especialistas ele era o segundo mais direitista dos cinco candidatos à liderança – sendo que o primeiro, integrante da sua direção que neste exato momento leio dela se terá demitido, em tempos dera “vivas a Salazar” e chamara “agiota de judeus” ao cônsul que salvou da besta nazi centenas deles. Naquele discurso, porém, sublinho, FRS não foi mais à direita, e foi menos agressivo, do que Assunção Cristas em muitas das suas intervenções, inclusive nas legislativas, para já não falar das de Nuno Melo, inclusive nas europeias. Em ambos os casos com os resultados que se conhecem. Pelos vistos, no entanto, há quem não aprenda as lições. Como acontece no PSD com os que nem percebem o que está diante dos olhos e a direção de Rui Rio repete: se à sua direita tem seis deputados, e ao centro/centro-esquerda tem largas dezenas, para que lado é que pode alargar?…
Voltando a FRS, parece pois óbvio que para ele “um CDS à CDS” não terá nada a ver com o criado e implantado por Diogo Freitas do Amaral, Adelino Amaro da Costa, Basílio Horta, Vítor Sá Machado, etc.: um partido democrático, assumidamente centrista, de matriz conservadora e democrata-cristão, com sérias preocupações sociais. À imagem e semelhança do Diogo e do Adelino, em particular deste de que fui próximo e (como morreu, tragicamente, não se pode defender…) vejo tantas vezes citado, aproveitado, por quem é ou representa o contrário dele… Dele que se distinguia pela inteligência, a moderação, a tolerância, a capacidade de procurar e gerar consensos.
Aliás, não será com FRS que começa o caminho de já nem ser possível haver “um CDS à CDS”. Porque o CDS à CDS morreu, ou pelo menos teve a sua certidão de óbito passada, quando foi substituído pelo Partido Popular… (CDS/PP, primeiro, depois Partido Popular, ficando o CDS só na bandeira). Foi a época em que, além do resto, até sanearam da sede o retrato de Freitas do Amaral. Manuel Monteiro, tendo Paulo Portas como inspirador, e depois o próprio Paulo Portas – este com sucessivos recuos ou “ajustes” táticos, além de contradições – não renovaram, liquidaram o tal CDS. Agora, chega um novo líder ao partido com o nome do que o Diogo e o Adelino construíram. Mas, a não ser que haja um milagre, FRS nunca poderá ser líder de um CDS à CDS, nem nas “versões” de Lucas Pires ou Adriano Moreira. Ao que o Chicão poderá, quando muito, aspirar, é a fazer “um PP à PP”, segunda série. E, se o conseguir, bem de direita mas sem ódio e agressividade, respeitando a democracia, por um lado travando o crescimento do Chega, por outro trazendo para as suas hostes os que continuam no PSD sendo de uma direita similar à sua – já será uma proeza e prestará um bom serviço.
(Opinião publicada na VISÃO 1405 de 6 de fevereiro)