O que (cor)responde, politicamente, aos interesses do país e dos portugueses? Em geral: um clima descrispado, de moderação e respeito mútuo, que não exclui o vigor, no combate das ideias e das propostas, ou um ambiente de confronto permanente, no pressuposto de que ser uma oposição forte é atacar tudo o que vem do Governo? No que concerne às relações entre os dois maiores partidos: que possam estabelecer um diálogo civilizado, mormente na procura dos necessários consensos para medidas de fundo e longo prazo, ou que por princípio, e até fazendo disso bandeira, o negam ou rejeitam, recusando por sistema tudo o que vem do outro? E num candidato a primeiro-ministro: ter conhecimento e experiência relevantes da e na gestão da “coisa pública”, ou não ter?
Julgo claro o que o interesse nacional impõe. E como ao dar opinião só ele me importa, digo sem meias-palavras que nas eleições de sábado para eleger o líder do PSD considero melhor para o País uma vitória de Rui Rio do que de Luís Montenegro. Porque, como resulta do percurso anterior de ambos e do que têm defendido na atual campanha, é flagrante, além da experiência que tem, situar-se Rio do lado das primeiras alternativas apresentadas, e Montenegro do lado oposto – como já se situava enquanto líder parlamentar nos tempos da Troika e do subsequente período do “vem aí o Diabo”, de que foi tenor. Por vezes com notória agressividade verbal e, também nesta campanha, dizendo coisas sem qualquer fundamento, num lastimável apelo à “clubite” partidária. Por exemplo, sugerir, quase garantir? que com ele o PSD ganha as próximas legislativas, e com maioria absoluta, ultrapassa muito a definição de um objetivo ambicioso para se situar no terreno da mera demagogia.
Rio não usou estes expedientes. E até afirmou que se candidatava pelo País, se fosse só pelo partido não o faria. O que lhe é prejudicial para as eleições de sábado, mas se coaduna com o seu estilo, com a diferença que cultiva: não diz sempre o que se está à espera que um “político” diga, antes o que até pode indispor os seus correligionários; decide e fala quando entende ser o tempo próprio e não quando os outros querem para serem os “primeiros” (como ainda agora aconteceu relativamente ao Orçamento do Estado); não se sujeita às agendas e aos ditames da comunicação social e dos comentadores, não temendo desagradar-lhes ou mesmo afrontá-los; etc.
E a verdade é que só esta diferença, e um posicionamento político mais central, sem apagar de todo a matriz que o nome do partido ostenta, pôde salvar o PSD da derrocada nas legislativas, dando um óbvio contributo para o PS não ter maioria absoluta. O que aconteceria se fosse Montenegro o líder, como a análise dos resultados e o conhecimento de muitos casos concretos evidenciam. Ora, em relação ao futuro o cenário é o mesmo. Mas as lutas partidárias são o que se sabe, e quem vota são os 40 mil “militantes” que levaram a militância ao ponto de pagarem as quotas, e não os até 1,5 a 2 milhões de potenciais eleitores do PSD. Assim, Montenegro até poderá ganhar, numa segunda volta em que, como provável, vote nele a maioria dos apoiantes de Pinto da Luz – que num debate entre os três foi o que se destacou
(Opinião publicada na VISÃO 1401 de 9 de janeiro)