Num momento em que vivemos tempos conturbados no SNS, valerá a pena, nesta quadra natalícia, trazer aos leitores casos de excelência que se passaram recentemente:
- Francisco, distinto e “velho” advogado de Lisboa, tem 90 anos. Reside nas Avenidas Novas. Tem as mazelas típicas da idade, mas é um homem no essencial saudável, autónomo e ainda guia. Há umas semanas deu uma queda que o levou ao Hospital de Santa Maria. Foi operado para substituição da anca e regressou a casa 6 dias depois.
Recebeu o telefonema do seu médico de família ao 3º dia. O internamento em Santa Maria espoletou um contacto do serviço de ortopedia com aquele médico, para melhor esclarecimento das condições de saúde do doente e respetivo acompanhamento conjunto.
O doente agradeceu o contacto e aproveitou para informar o médico de que sentia alguma febre e mal-estar respiratório. O médico de família prometeu passar por casa no fim do dia, o que efetivamente sucedeu. A situação clinica de Francisco inspirava, afinal, alguns cuidados especializados, pelo que entrou em contacto com Santa Maria e falou com o responsável da medicina interna. Combinaram internar o doente no dia seguinte, logo que estivesse uma cama disponível. Francisco e a família agradeceram muito a atenção do seu médico e no dia seguinte procedeu-se ao seu internamento em Santa Maria. Cino dias depois, Francisco regressou a casa muito melhor, depois de uma pneumonia.
- Maria do Rosário é uma pequena empresária no Fundão. Tem 53 anos e gozava até há pouco tempo de uma excelente saúde. Foi-lhe diagnosticado um cancro da mama, felizmente com bom prognóstico. Na sequência do tratamento foi-lhe prescrito um ciclo de radioterapia no Hospital de Viseu, num serviço recentemente inaugurado e que poupou muito tempo e desconforto aos doentes da região que, até aí, se tinham de deslocar a Coimbra. Iniciou ontem esse tratamento. O transporte foi-lhe garantido pelo SNS e regressou a casa bem e com esperança na sua recuperação.
O seu médico de família contactou-a à noite a saber como estava e se precisava de alguma coisa. Maria do Rosário agradeceu penhoradamente todas as atenções do seu médico e disse-lhe que de momento não precisava dos seus serviços. Combinaram encontrar-se no consultório do médico alguns dias depois.
- Martim é um menino de 6 anos que reside com os pais em Almada. Na última manhã acordou com dores no corpo, febre e dores de garganta. A mãe telefonou logo à sua médica de família para saber como proceder. Esta, que conhecia bem todos os membros família e, em particular o Martim, que tinha visto na semana anterior, disse que se trataria com certeza de uma gripe e enviou, para o email da mãe do Martim, uma receita com fármacos de uso comum. Disse, entretanto, à mãe, que poderia contactá-la a qualquer hora se se registasse algum agravamento do estado de saúde do Martim e que, ao fim de 3 dias de terapêutica, e se a evolução fosse a esperada, queria ver o Martim em consulta na USF. Foi o que efetivamente aconteceu e tudo correu bem.
Acordei! Foi, infelizmente, um sonho. As minhas desculpas. A realidade volta dentro de momentos.
P.S.:
E voltou mesmo, com uma verdadeira e palpável prenda natalícia para o SNS e para os doentes.
Vamos ter cerca de 500 M€ para solver dívida consolidada do SNS e mais cerca de 850 M€ para travar a suborçamentação. Há ainda um plano plurianual para admitir mais cerca de 8 mil profissionais no SNS, em todas as áreas. Isto não é sonho, foi a realidade que saiu do Conselho de Ministros de 12 de dezembro último. São indiscutivelmente boas notícias. Esperemos que possam ajudar a tornar realidade algum daqueles sonhos….embora muitas coisas não dependam apenas de dinheiro…