Hong Kong, Catalunha, Líbano, Chile, Iraque, Haiti, Equador… qual será o próximo nome nesta lista? De repente, o mundo dá sinais de descontentamento em latitudes e em hemisférios diferentes, como uma espécie de vírus contagioso, embora cada um com a sua razão. Será mesmo? A verdade é que, embora estes possam parecer protestos por razões muito concretas, há em cada um deles uma mesma característica, um mesmo pulsar: o mal-estar provocado pela desigualdade, que grassa e se expande com cada vez maior vigor por todo o mundo.
Em Hong Kong, cujos protestos têm servido de inspiração para muitos outros em diversas latitudes, não está só em causa o repúdio à tentativa de aprovação de uma lei de extradição ou a defesa de direitos, liberdades e garantias herdados dos tempos da colonização britânica – há também um mal-estar generalizado entre os mais jovens, obrigados a viver em cubículos ou ainda com os pais, por não terem dinheiro para os preços astronómicos das casas na cidade mais cara do mundo.
No Líbano, a revolta estalou quando o Governo anunciou a criação de um imposto para as chamadas feitas através do WhatsApp, mas depressa o protesto dos libaneses foi alargado para a situação económica e política. Algo perfeitamente compreensível num país onde 25% da população vive abaixo da linha da pobreza. No Chile, segundo cada vez mais analistas, a cólera que incendiou o país, por causa do aumento dos bilhetes do metropolitano, tem raízes na grande distância entre um crescimento económico forte e as desigualdades sociais flagrantes.
Na Catalunha, onde os protestos têm um cariz mais político e nacionalista, é preciso levar também em consideração o sentimento de desigualdade que muitos catalães partilham face ao poder central em Madrid e à forma como a sua região foi perdendo peso económico, nas últimas décadas.
Por esse mundo fora, crescem os sinais de descontentamento e de desânimo perante o futuro. O sentimento de injustiça face à desigualdade crescente é uma espécie de bomba-relógio. Só está à espera de um pequeno rastilho para a fazer explodir. Os sinais estão à vista de todos neste mundo cada vez mais zangado.