Ao vencer, de forma categórica, a corrida interna para a sucessão de Theresa May, como líder do Partido Conservador, Boris Johnson tem a oportunidade de cumprir o sonho da sua vida: governar o Reino Unido num momento decisivo e de viragem para a História do país, em vésperas do Brexit, inspirando-se no exemplo de Churchill na II Guerra Mundial ao enfrentar os nazis. Mas não chega apregoar essa inspiração, como ele tem feito repetidas vezes. Para ser bem-sucedido, Boris Johnson terá, acima de tudo, de derrotar o seu pior inimigo: ele próprio.
Apesar de ser um político muito popular no Reino Unido, graças a uma imagem alicerçada nos anos em que foi mayor de Londres e num estilo polémico que cultiva, com um misto de inteligência e provocação, nas suas colunas de opinião no jornal conservador Daily Telegraph, Boris Johnson tem um claro problema de credibilidade a nível internacional. Por uma razão simples: como já mudou tantas vezes de opinião sobre quase tudo, continua a ser um completo enigma descobrir o que ele pretende fazer como primeiro-ministro.
É verdade que, nos últimos tempos, Boris Johnson tem afirmado que o Brexit vai mesmo ocorrer na data marcada, 31 de outubro, exista ou não acordo com a União Europeia. O problema é que isso foi dito pelo mesmo homem que, nos seus primeiros tempos como jornalista, no Times, foi despedido por inventar citações e que, mais tarde, como correspondente do Telegraph em Bruxelas, ficou conhecido por mentir descaradamente nos seus artigos só para impulsionar o sentimento antieuropeu.
Embora queira imitar Churchill, o drama de Boris Johnson é que todos o comparam, isso sim, a Donald Trump. Com uma agravante: ao contrário de Trump, já todos, na Europa, conhecem Boris há demasiado tempo. Para o bem e para o mal.
(Opinião publicada na VISÃO 1377 de 25 de julho)