It takes a village! Não podia ser mais verdadeira a expressão anglo-saxónica. É preciso uma “aldeia” para criar um filho. Não apenas pela evidência de vivermos em sociedade e, portanto, ser impossível educar alguém que não coletivamente. Mas porque é essencial ter uma rede de suporte.
Longe vão os tempos das famílias numerosas, com fortes laços de solidariedade na vizinhança, em que as crianças eram criadas pela comunidade, misturando-se. Vivemos na era das famílias nucleares, que habitam em apartamentos e que, tantas vezes, criam os filhos longe dos avós, sem a possibilidade de partilhar e aliviar o peso da parentalidade. O trabalho de criar uma família passou de uma espécie de processo comunitário a projeto de vida a dois. E isso acaba por ser muito penalizador, sobretudo para as mães, pois são elas que habitualmente passam os meses de licença em casa, usufruindo (é certo) do privilégio de cuidar do bebé, mas vivenciando também a solidão e o desgaste, que tantas vezes estão associados a essa missão. Sendo uma sortuda, tenho tido muito apoio nos últimos meses. Não só do pai do bebé, que comigo tem partilhado todas as tarefas e responsabilidades (exceto a de amamentar, obviamente), mas de uma aldeia inteira que se junta em meu redor sempre que é preciso. Ora porque ele está a trabalhar, ora porque eu estou a trabalhar, ora porque, por alguma razão, estou sozinha nas pequenas e grandes empreitadas do dia a dia.
A minha mãe tem sido a maior ajuda desde o dia um. Não apenas porque me tem acompanhado muito, amparando as minhas inseguranças e fazendo de tudo para que eu durma o mais possível, mas porque o faz com uma generosidade total. Feliz por ter um neto e solidária com os meus cansaços. Sabedora do desgaste que ter filhos pode provocar, no corpo e no espírito da fêmea mais convicta, e da importância de ter uma mãe na hora de nos tornarmos mães pela primeira vez (como ela teve, quando eu nasci). Uma bênção, até porque este apoio incondicional não induz sentimentos de dívida, com cobranças veladas. É o tipo de ajuda que nos deixa ir descansadas, que nos deixa dormir em paz (nem que seja meia hora) e que nos ensina, no processo e pelo exemplo, o verdadeiro sentido da maternidade.
Além dela, o meu pai (que consegue sempre fazer o bebé sorrir, mesmo ao fim do dia, na hora da birra), a minha irmã (que até no hospital esteve, horas a fio, connosco), a minha tia (que neste momento está com o bebé para eu poder escrever esta crónica e que vem sempre que é preciso uma horita livre), a amiga Mariana (que esteve comigo numa das piores madrugadas do bebé), a amiga Zeza (que vem comigo para a estrada e faz de babysitter durante os concertos), a prima João (que mora no mesmo prédio e que volta e meia oferece o colo, para eu poder tomar banho ou tratar da horta), a Fátima, a nossa mulher a dias (que se oferece sempre para dar uma ajudinha entre uma tarefa e outra) e a minha amiga Joana (que foi mãe do segundo, pouco antes do meu parto, e com quem falo ao telefone sempre que é preciso dividir angústias cúmplices, já que o apoio moral não é de somenos importância).
Mas o mais reconfortante é perceber que esta rede se estende para fora de portas e que, às vezes, até inesperadamente, aparecem braços para ajudar. A professora de ginástica pós-parto (que embala crianças chorosas para as mães poderem completar os exercícios), a rececionista do consultório médico (que veio em socorro quando o bebé resolveu boicotar a minha consulta) e até a senhora da sala de espera (que cantou para o acalmar), ou os desconhecidos (que ajudam a pegar no carrinho quando há escadas em vez de rampas). A rede estende-se. Como um tapete que nos acolchoa o caminho, tornando-o menos duro e sinuoso. Uma corrente de braços, solidários e providenciais, de mãos dadas, a quem agradeço muito. Bendita aldeia!
(Crónica publicada na VISÃO 1375 de 11 de julho)