Os Verdes cresceram nas eleições europeias em vários países. Ao mesmo tempo, assistimos a uma apropriação da causa ecologista por parte dos partidos mainstream. Os apelos de Greta Thunberg fizeram engrossar as greves e manifestações de jovens ambientalistas por todo o mundo. E até o mercado tem acentuado a crescente tendência para o greenwashing de produtos vários, criando (paradoxalmente) novas necessidades.
E se é urgente exigir mais aos nossos governantes, sendo na macroescala que se tomam as decisões com maior impacto, tendemos a ser muito discursivos e pouco efetivos. Não apenas porque não estamos a reivindicar o suficiente no plano político, mas também porque não estamos a fazer o que nos compete individualmente.
Quando vejo as imagens das manifestações de adolescentes pelo clima, sinto obviamente alguma comoção. É muito bonito assistir à mobilização das gerações mais jovens, ver o seu comprometimento em trazer a urgência da luta contra as alterações climáticas para as agendas políticas e mediáticas. Sinto um otimismo quase romântico de que algo pode estar a mudar, e uma esperança renovada de que as causas ecologistas estão, finalmente, a ser assumidas e apropriadas por aqueles que, de forma mais direta, sofrerão as consequências de décadas de negligência e descaso.
Por outro lado, é inevitável o receio de que tudo não passe de galvanização momentânea, bonita mas ingénua, tão vazia como os chavões que surgem repentinamente nos discursos de noite eleitoral, ou na banha da cobra eco-friendly do marketing pseudoverde. E tenho vontade de perguntar quantos estariam efetivamente dispostos a fazer os sacrifícios necessários. É que, infelizmente, na luta contra as alterações climáticas, não basta a reivindicação de medidas políticas e compromissos reais ao nível dos Estados para uma redução efetiva das emissões de gases com efeito de estufa. Há também que contribuir com uma real mudança de hábitos.
Apetece perguntar quantos estão dispostos a deixar de comer carne ou, pelo menos, a reduzir drasticamente o seu consumo. É que a produção agropecuária tem uma grande contribuição para o problema, não apenas pelo desmatamento para a criação de pastagens, mas também pela água que é gasta no cultivo de cereais para rações (tantas vezes transgénicos), e pelas enormes emissões de metano por parte dos animais.
Há que perguntar quantos estão dispostos a deixar de comprar roupa nas cadeias de fast fashion, responsáveis pela contaminação de cursos de água, com químicos e tingimentos, com o consequente envenenamento de peixes e pessoas, ou pela exploração de mão de obra quase escrava nos países asiáticos. É que para ser muito barata no shopping, acaba por ser muito cara do outro lado do mundo, onde o ar das cidades é irrespirável e nem um ano de salário daria para comprar aquele par de ténis que gostamos de estrear.
Da mesma forma, há que perguntar quantos estariam dispostos a limitar o consumo de tecnologia, a usar apenas transportes públicos, a abdicar totalmente de comprar produtos embalados com plásticos descartáveis, a comprar apenas local e sazonal (mesmo que seja muito bom comer papaia em Chaves, ou manga em Estremoz, e salada de tomate o ano inteiro).
Claro que contra mim falo. Já que, se por um lado, cortei na carne e compro sobretudo local e sazonal, por outro ainda me é difícil prescindir totalmente de produtos embalados em plástico. Tenho uma horta e faço compostagem, mas ainda não consigo resistir a comprar mais roupa do que a necessária e, sobretudo, roupa de proveniência longínqua e pegada ecológica e social duvidosa. Faço sempre a separação do lixo e eliminei o uso de garrafas de água, andando sempre com um cantil, no entanto, ainda recorro ao automóvel como meio de transporte preferencial. Enfim, o mea culpa é infinito, e por ser tão urgente quanto difícil é que não nos basta que a poesia saia à rua. Vamos mesmo ter de deixar de viver como vivemos se quisermos sobreviver.
(Opinião publicada na VISÃO 1371 de 13 de junho)