1. O que deve estar primeiro: a mera e cega luta partidária, o afirmar-se oposição, em qualquer circunstância e a qualquer preço, ou o interesse nacional? Bem sei que a pergunta pode pecar por demagogia ou outros vícios em que procuro não incorrer. Mas, sendo a resposta óbvia, faço-a apenas para “introduzir” a chamada de atenção para um lamentável aspeto da vida política que só se tem agravado, em particular com práticas como a de oposição de Passos Coelho na liderança do PSD e a de certos media e/ou dos que neles opinam.
Podia dar muitos exemplos, escolho um que tem a ver com a atualidade, após a posse de Mário Centeno como presidente do Eurogrupo. Os resultados da sua ação como ministro das Finanças estão À vista e conduziram a tal escolha. Uma ação reconhecida e elogiada, mormente a nível internacional, por economistas e políticos de todos os setores – exceto, entre nós, pelos que fazem aquele tipo de oposição. E que até quiseram, alguns “exigiram”, a sua demissão aquando da nomeação de um CEO para a CGD. Era já então evidente a qualidade do seu trabalho, o sucesso das suas políticas e o interesse nacional em que as continuasse. Mas há de facto quem na vida pública não coloque este interesse em primeiro lugar.
2. Com diferentes contornos, algo de semelhante se passou com o ministro dos Assuntos Sociais. Vieira da Silva (VS) é em geral considerado dos ministros mais influentes e competentes do atual Governo. A propósito do caso da Raríssimas foi alvo de acusações ou insinuações absurdas, que quem tenha um mínimo de conhecimento e experiência das leis, das instituições e da vida sabe não fazerem nenhum sentido. E, não obstante, não faltou quem a tal pretexto o quisesse afastado do Executivo, com os que precisam de aprender jornalismo a perguntarem-lhe repetidamente se não se ia demitir.
Este caso, aliás, mostrou de forma flagrante outro dos erros ou pecados de muitos políticos e não poucos media: o julgamento ou juízo de valor sobre ações e decisões de quem quer que seja tem que ser feito À luz do que era sabido ao tempo em que as tomaram e não tendo em conta o que só se veio a saber posteriormente. Princípio básico que poderá talvez estar a ser esquecido também no caso da atuação da PGR, Joana Marques Vidal, enquanto coordenadora do Tribunal de Menores de Lisboa na época das “adoções” da IURD.
3. A vitória de Rui Rio nas eleições do PSD cria a expectativa de uma melhoria no relacionamento político entre o seu partido e o PS/Governo, até de uma melhoria a nível parlamentar, bem assim da possibilidade de entendimentos impostos pelo tal interesse nacional em domínios importantes. Mas é óbvio haver quem, no interior do próprio PSD, se oponha à intenção do ex-autarca do Porto de dar mais “seriedade” à forma de fazer política. E esses, sabendo bem que a manter-se a atual situação o PSD não ganhará as próximas legislativas, preparam-se já para o vir a baldear, fazendo crer que isso é o normal, consequência inevitável da não vitória. O que é mentira, pois tudo depende das circunstâncias e de uma avaliação concreta. Se assim não fosse, no próprio PSD o sempre invocado Sá Carneiro devia ter-se ou ser demitido logo em 1976 (se não em 1975), em que perdeu; e Mário Soares em 1979…
(Artigo publicado na VISÃO 1299, de 25 de janeiro de 2018)