Desde a última vez que por aqui nos escrevemos passou quase um mês. É como se fosse ontem porque o País também só tem discutido uma certa candidatura autárquica. Já lá vamos a isso, ao importante, mas passamos só, num instante, por umas coisas menores que me cativaram a atenção na letra pequena dos jornais.
Entrámos na estação parva, dizem. Talvez com razão.
Se calhar os turistas que levam duas ou três horas para mostrar o passaporte no aeroporto acham aquilo um bocado parvo. Mas é porque não sabem da nossa ministra. Com o siso e autoridade com que nos tem brindado lá decretou a nova realidade. E decretou, portanto, que ninguém espera mais de 40 minutos para entrar em Portugal. Se não, ela chora!? Resolvido.
Um tudo nada desagradável foi o SEF dizer que não tem meios para garantir a segurança do País com estes procedimentos superiormente decretados. Numa terra em que decidimos, por junto e atacado, viver do turismo, ou entram os turistas ou sai a segurança. Bonito. E eficaz. E até podia, se não fosse verão, pôr-nos a pensar como é que depois do Excel dos economistas, antes das eleições, fomos ao choque de consumo e do choque de consumo ao consumo dos camones.
Como se em algum país desenvolvido se vivesse de turismo… mas adiante, que isto não é importante.
Como também não será importante o nosso presidente do Parlamento, a segunda figura do Estado. O Dr. Ferro, igual a si próprio, decidiu comentar decisões da justiça sobre os membros do Governo remodelados. Assim como se ele fosse presidente do parlamento da Venezuela e nos fosse indiferente a confusão entre quem faz as leis e quem as aplica… enfim, se fosse importante não tinha passado despercebido.
Aliás, do Parlamento só chegam notícias aconchegantes. A comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos depois de produzir um relatório inútil pela pena de um camarada socialista – na semana, de resto, em que o MP, sobre os mesmos factos abriu um inquérito crime – conseguiu a proeza de não o aprovar porque faltaram na hora da votação deputados… socialistas.
Pena não haver aí ainda um Eça, para a inscrição na posteridade que a coisa de tão patusca, até merecia mas, outra vez, adiante que não é importante.
Já um bocadinho mais de importância ou respeito podiam começar a suscitar, um mês depois da tragédia de Pedrógão Grande, os que lá morreram e os que lá ficaram.
Eu sei que o focus group do PS acha que está tudo bem e que o chefe é muito ladino e até bate no SIRESP que ele próprio contratou. Mas aqui a miséria já é por demais para fazer de conta que não se repara. Mesmo para os ceguinhos da geringonça. Mais de um mês depois o Estado não sabe quantas pessoas morreram. Mais de um mês depois o segredo de Estado sobre quem lá morreu impede as seguradores de pagar. Mais de um mês depois ninguém sabe onde está a ajuda material e psicológica que há muito lá devia ter chegado.
Tudo o que esta agência de comunicação, a que por distração e hábito chamamos governo, quis foi convencer-nos da impossibilidade de fazer melhor naqueles dias. O downburst. Mas entretanto ficamos a saber que nem os lugares de ação na proteção civil escaparam a gula dos boys do PS. Que a gente que conhecia o terreno foi substituída pela rapaziada do aparelho. E a incompetência aí continua, todos os dias, como em Alijó, onde chegam relatos do mais puro desnorte e descoordenação no combate ao fogo. É mesmo preciso o governo vir defender o Estado para ver o Estado falhar como nunca.
E agora, já não há espaço para o que verdadeiramente interessa discutir. O tema único destes dias. O candidato. Loures. Peço desculpa, mas se calhar não faz mal. Todos os colunistas de esquerda já trataram tão bem o tema. Aliás, olhando para cima é fácil perceber porque nada mais trataram… A estação pode ser parva, mas nós ajudamos muito não é?
(Artigo publicado na VISÃO 1273, de 27 de junho)