Porque é que Portugal produz tão poucos líderes? Esta semana contei quantos portugueses já foram reconhecidos internacionalmente como líderes, tendo em consideração quatro bases de dados: prémios Nobel (desde 1901), TIME 100: The Most Influential People in the World (desde 2010), FP Top 100 Global Thinkers (desde 2010) e Young Global Leaders do Fórum Económico Mundial (desde 2004). A resposta é seis pessoas. Depois comparei o nosso país com outras nações europeias de dimensão demográfica semelhante. A resposta foi Suécia com 36, Áustria com 20, Bélgica com 18, Hungria com 11, República Checa com 9 e Grécia com 7. Entre países europeus com populações comparáveis, Portugal é quem produz menos pessoas influentes.
A nossa cultura de aversão ao risco, a descrença no nosso valor individual e coletivo (revelada na autocondenação e nos laivos de pessimismo e de inveja), a sociedade estratificada que não fomenta a mobilidade social, a frágil cultura de inovação e empreendedorismo, a falta de estímulo à meritocracia, as desigualdades sociais ou os ainda baixos níveis educacionais, quando comparados com os seus pares europeus, podem explicar a dificuldade em incubar talentos nacionais. Obviamente que Portugal, como qualquer país, dispõe de dirigentes em todas as áreas, mas tem grande dificuldade em estimular a sua rotatividade. Os rostos nos cadernos de política e de economia nos jornais nacionais não variam significativamente há 20 anos. Ainda que a sociedade portuguesa pós-25 de Abril se encontre num processo de forte transformação e abertura global, tendo perdido o conservadorismo que, em grande parte, a definia, as nossas lideranças não acompanharam esta ebulição.
Na economia, os recentes desacertos da Portugal Telecom, TAP e Espírito Santo, deveriam alertar-nos para a necessidade de formar melhores gestores empresariais. Um estudo recente da Universidade de Standford e da LSE coloca Portugal atrás de todos os países da União Europeia, com exceção da Grécia, no que toca à competência dos nossos líderes empresariais (foram analisadas 300 empresas nacionais). Na política, talvez a situação ainda seja mais preocupante. São necessários novos líderes que, ao construir uma carreira de sucesso fora dos partidos, têm interesse em contribuir temporariamente para a causa pública. O recente sucesso na imprensa da deputada Mariana Mortágua certamente deriva da sua dedicação e irreverência, mas é também um forte indicador do quão sedentos estão os portugueses por novos líderes no Parlamento.
Certamente Portugal dispõe hoje da população jovem mais bem formada e preparada da sua história. Os nossos jovens são mais globalizados, tecnológicos, ambientalmente-conscientes e multilíngues do que todas as camadas jovens que lhes antecederam. Mas esta massa de talentos mantém-se anónima e desaproveitada. As dificuldades de progressão geram frustração, abstenção eleitoral e emigração. As próximas eleições legislativas e presidenciais poderiam servir para incentivar a necessária regeneração. Mas a probabilidade que isso aconteça nos próximos meses é baixa.