Qual é a diferença entre o treinador do Futebol Clube do Porto, Julen Lopetegui, e o ministro da Educação, Nuno Crato? É que, no primeiro caso, o presidente Pinto da Costa ainda não disse que a crise por que passa a sua principal equipa de futebol “só significa que acertou”, quando escolheu o basco para treinador. Mas há outra diferença: Lopetegui move-se num mundo onde tudo muda ainda mais rapidamente do que na política. Já pôs o Porto a jogar bem, no princípio da época, e nada prova que não possa dar a volta por cima e ser campeão nacional ou, mesmo, europeu. Já Nuno Crato dificilmente terá uma nova oportunidade de voltar a causar a boa impressão que deixou nos seus primeiros tempos de ministro.
A frase de Passos Coelho, dita na presença do seu ministro, decerto com a melhor das intenções, é uma espécie de epitáfio político de Nuno Crato e um presente envenenado que o ministro – e o seu sorriso amarelo, na ocasião, demonstra-o bem… – dispensava. Voltando ao mundo da bola, é como se um presidente de um clube tivesse de falar aos sócios em fúria para reiterar confiança no seu treinador. Sinal de que esse treinador já teria perdido a capacidade de iniciativa. Já aconteceu antes. Normalmente, precedendo a inevitável chicotada psicológica.
É confrangedor ver um primeiro-ministro anunciar, na presença do visado, que este esteve demissionário. É um segredo que deveria ficar no seio do Governo ou, combinada entre os dois, a respetiva revelação deveria caber ao ministro. Ficámos a saber que, apesar de todas as justificações, Crato reconheceu motivos para se demitir. Trata-se de uma confissão política por interposto primeiro-ministro. Com os fumos de remodelação no horizonte, Passos terá tido necessidade de resguardar, para já, o seu ministro – mas, com isso, só o recolocou na mira da opinião pública. Ao mesmo tempo que irritava ainda mais, e desnecessariamente, os docentes afetados pela trapalhada das colocações.
Os professores constituem a mais numerosa corporação do País. Estando longe de ser a mais poderosa, consegue, no entanto, assustar pelo peso quantitativo do seu voto. José Sócrates perdeu a maioria absoluta no dia em que 200 mil se manifestaram em Lisboa. Classe informada, reivindicativa, com direitos adquiridos nem sempre justos, se comparados com os dos seus concidadãos de outras áreas da administração pública, eles constituem uma clientela eleitoral que os governos adularam e, depois, temeram. Liderados por um sindicalista combativo, ortodoxo e implacável, ganham batalhas atrás de batalhas (como a da avaliação que a antiga ministra Maria de Lurdes Rodrigues tentou impor). Quem quiser fazer-lhes frente, tem de ter uma competência política e técnica de betão. Mesmo assim, só ministros medíocres saem incólumes daquele lugar… Dar o flanco, como Crato deu, no triste caso da colocação deste ano, é a morte do artista.
É por isso que qualquer ideia de reforma da Educação (que é bem precisa e que Nuno Crato chegou a preconizar com coerência) morreu na rentrée e foi enterrada pelo voto de “confiança” de Passos Coelho.
Lopetegui ainda pode recuperar o balneário. Nuno Crato é que já não.