Bye Bye Brasil
Tenho pena de não ter desfrutado do futebol da seleção como aconteceu em outros grandes torneiros, ainda mais numa Copa com tantos golos, futebol e empolgação. Senti-me o parente pobre.
Claro que estar no Brasil, quando aqui acontece um campeonato do mundo, já é um privilégio. Mas, tendo em conta que, ao longo do século XX, um milhão de portugueses emigrou para cá, e que desde 2008 terão chegado quase cem mil, então esta Copa poderia ter sido mais especialmente portuguesa.
Os amargos de boca do futebol são como as paixões às quatro da manhã: batem forte, mas passam depressa. Como diria Tony Soprano e seus acólitos perante a inevitabilidade do que já aconteceu: “What you gonna do?” Por outras palavras: vêm aí os oitavos de final. Ou, em bom português, é a vida, amanhã é outro dia.
Exortação aos crocodilos
Sim, estamos gratos, ele jogou magoado, dá tudo, já nos safou muitas vezes, maravilha-nos todos os fins de semana. Mas, porque o futebol não é um jogo de computador, era melhor que o Cristiano Ronaldo, que já não é uma criança, afirmasse a sua liderança não apenas por ser o melhor futebolista do mundo, mas por dar a cara sem birras, beicinhos, remoques ou queixinhas sobre os outros meninos, que não sabem jogar. É uma pena que os dois portugueses mais conhecidos no mundo – Cristiano e Mourinho – tenham o mau perder dos umbiguistas e a má educação dos caprichosos.
Fazer as malas
Pensar constantemente naquilo que sentem os outros talvez seja um tique de ficcionista. E se o momento da vitória é facilmente narrado, a solidão da derrota tem muito mais apelo literário. Depois do 4-0 com a Alemanha não quis nada com o futebol durante 24 horas (e estamos numa Copa do Mundo, em que todo o minuto perdido é um desperdício lamentável). Pus-me a imaginar, por isso, o que sentirão os jogadores da seleção a fazer as malas, num quarto de hotel, rodeados de futebol e de Copa do Mundo por todos os lados. Pensei no tempo de espera pelo autocarro, essa melancolia sempre que estamos de partida e julgamos ver um lugar pela última vez. Os olhares dos curiosos no aeroporto, os fotógrafos profissionais, os fotógrafos das selfies. E a seca de 10 horas de viagem de avião. Tudo isto enredado pelo mal estar da derrota. Coitados.
Ou talvez não. Aterram em Lisboa e de certeza que está um dia de sol e o calor não colapsa os pulmões como em Manaus. O ar é diferente, mais cristalino e leve. Nada melhor que sair de um avião para sentir um novo começo. Vão colocar os seus óculos de sol nas caras bem hidratadas, encerar as barbas e os cabelos, pôr os seus barretes a la Johnny Depp e entrar nos seus carros desportivos. Depois, férias, talvez em Capri ou se calhar Vilamoura, na Feijoada da Caras, poses para retratos na companhia do Paulo China. E é aqui que o ficcionista salta fora. Não vale a pena, a história não se aguenta. Mesmo que este cronista fosse o Camões, a seleção, no máximo, dava uma canção pop sobre um dia mau.
O primeiro dia sem jogo
Uma brasileira que anda muito entusiasmada com a Copa, mas também com a seleção holandesa – “Eles são gente boa, andam de táxi, vão jantar ao Sushi Leblon e falam com todo o mundo” -, fez uma expressão desolada quando soube que hoje seria o primeiro dia da Copa sem jogos. Confessou: “Acho que vou ficar deprimida quando a Copa acabar”. Não está sozinha.
Final à vista
Sabendo agora quem está nos oitavos de final é possível antecipar confrontos até ao jogo no Maracanã no dia 13 de Julho. O Brasil só pode defrontar a Argentina e a Holanda na final. O mesmo se passa com a Alemanha. Mas podemos ter as seguintes meias-finais: Brasil – Alemanha e Argentina – Holanda, o que resultaria sempre numa final entre clássicos da Copa. No entanto, uma final disputada pelo Brasil e pela Argentina no Maracanã é, sem qualquer dúvida, aquela mais desejam os que gostam de muito drama.
Tô Voltando/Música de despedida para a seleção portuguesa
“Dá uma geral, faz um bom defumador/ Enche a casa de flor/ Que eu tô voltando/Pega uma praia, aproveita, tá calor/ Vai pegando uma cor/ Que eu tô voltando”