<#comment comment=”[if gte mso 9]> Normal 0 21 false false false PT X-NONE X-NONE MicrosoftInternetExplorer4 Se o Oceano Atlântico sempre fez parte do misticismo dos portugueses, nos próximos anos fará parte do misticismo de muitas outras pessoas. Sem lirismo camoniano, o Atlântico deverá tornar-se, nos próximos anos, um dos grandes alvos da atenção da política internacional. A principal razão é a energia. Da mesma forma que o Médio Oriente se transformou, após a Segunda Guerra Mundial, no centro nevrálgico da produção de energia no mundo, principalmente de petróleo, a região banhada pelo Atlântico será a principal produtora de energia, na próxima década. Relatórios da ONU, do Banco Mundial e da OPEC são unânimes ao estimar que os EUA se tornarão os maiores produtores mundiais de petróleo até 2016, ultrapassando a Arábia Saudita. Em 2013, já foram os maiores produtores mundiais de gás, ultrapassando a Rússia (devido à exploração pioneira de gás de xisto). Com as reformas estruturais que estão a ser adotadas pelo Presidente Enrique Peña Nieto, na área da energia, o México também aumentará, vertiginosamente, a sua produção de petróleo. O Brasil, por outro lado, conta com as novas descobertas de petróleo do pré-sal e já é líder mundial em investigação sobre biocombustíveis de segunda geração, que permitirão a produção comercial de energia, ainda mais rentável, a partir do bagaço da cana de açúcar (etanol celulósico). O alargamento do Canal do Panamá e a intenção de empresários chineses de rasgarem a Nicarágua ao meio para abrirem um novo canal de navegação, criarão, também, novas infraestruturas de comércio e transporte marítimo.
Fazendo um atalho para o futuro, o ex-primeiro-ministro espanhol José Maria Aznar e a Universidade Johns Hopkins, promoveram, há duas semanas, mais um encontro da Iniciativa da Bacia do Atlântico, com o objetivo de discutir o futuro político, comercial e energético da região. Realizada em Veracruz, na costa do México, a cimeira juntou cerca de 40 pessoas, incluindo cinco ex-Chefes de Estado e de Governo, bem como o ex-Presidente da União Africana, Jean Ping, e a ex-comissária de Relações Exteriores da UE, Benita Ferrero-Waldner. Como participante, eu partilhei o entusiasmo deste grupo sobre o Atlântico e defendi, juntamente com os meus colegas, a criação de um Fórum Atlântico de Energia, que estabelecerá os primeiros mecanismos de governança da região. Atualmente, outras regiões oceânicas já têm a sua governança institucionalizada, como o Pacífico (APEC) ou o Índico (IORA). Estranhamente, o Atlântico continua sem liderança.
O esvair da importância geoestratégica do Médio Oriente conduzirá a grandes mudanças na região: haverá maior intervencionismo da China, menos proteção ocidental a sultanatos medievais e autoritários e poderá verificar-se uma nova dinâmica no conflito israelo-palestiniano. Ao tornar-se mais Atlântico, o mundo oferece, gratuitamente, uma oportunidade única a Portugal. O nosso país, mesmo que não queira, tem uma cadeira natural à mesa de qualquer discussão internacional sobre o Atlântico. A história de Portugal e o futuro da nossa economia dependem, em grande parte, da forma como aproveitarmos o desígnio de nos termos construído com o peito voltado para o mar. É tempo de Aznar receber uma chamada de Lisboa.