A União Europeia fez-se com duas palavras mágicas: unidade, entre todos os Estados-membros, e solidariedade. Os dois grandes partidos que fizeram a União – os democratas-cristãos e os socialistas, sociais-democratas ou trabalhistas, diferentes palavras para dizer o mesmo, quer sejam da zona euro ou não – sempre respeitaram a solidariedade.
A chanceler Angela Merkel, comunista vinda do Leste e luterana, por via do pai, nunca soube o valor da solidariedade e, sem o dizer explicitamente, deixou-a cair. Acho que nunca compreendeu o valor tão importante dessa palavra…
Foi em parte por isso, mas não só, um grande golpe na União Europeia e, em especial, na zona euro. Não sei como a França, os Estados nórdicos e mesmo os do Sul, se esqueceram paulatinamente dessa palavra mágica de tão grande valor político, económico, financeiro, social e ambiental.
Coincidiu isso com o desaparecimento gradual dos partidos socialistas e democratas-cristãos, e a chegada ao poder dos partidos populistas e ultrarreacionários, que estão a destruir as Democracias e os Estados Sociais, em que as pessoas não contam e em que quem manda são os mercados usurários, com troikas – no pior dos casos – ou sem troikas, mas em que o que pesa é a austeridade. A malfadada austeridade que engorda as troikas e os mercados e destrói os Estados Sociais e, aos poucos, as próprias democracias.
Com efeito, a crise europeia está em risco de conduzir a Europa para o abismo e, possivelmente, para citar o próprio Helmut Schmidt, Jacques Delors ou os economistas, prémios Nobel, Joseph Stiglitz e Paul Krugman, a uma nova guerra mundial. O que arruinaria a Europa e mesmo a América do Norte.
Penso, no entanto, que isso não acontecerá. Acredito que os Estados Unidos e, felizmente, Barack Obama e o secretário de Estado, John Kerry, democratas, pacifistas e progressistas, impedirão que essa desgraça mundial aconteça. Desgraça que seria fatal para o nosso planeta, que começa a dar sinais inquietantes de perigosos desequilíbrios, da responsabilidade dos humanos.
Até porque os Estados Unidos sabem bem que os únicos aliados fiéis que têm, num mundo tão conturbado, são os europeus e, seguramente, também o Japão e a própria China. Embora, no passado domingo, Barack Obama e John Kerry, por um lado, e, por outro, Hassan Rohani e o Ayatollah Khomeini, tivessem conseguido fazer a paz entre os Estados Unidos e o Irão. Um feito histórico.
Voltando à solidariedade. É indispensável que esse valor essencial volte a ser vivido de novo pelo menos na zona euro da União. Sem solidariedade não há União. A senhora Merkel perdeu as eleições, ao contrário do que diz a comunicação social. Para sobreviver politicamente tem que se aliar aos sociais-democratas. O que está a ser muito difícil. Mas é preciso pô-la na ordem para a Europa mudar. Há que acabar com a austeridade e impor de novo a solidariedade.
É uma condição sine qua non para que a União Europeia – e em especial a zona euro – não caiam no abismo… E não cairão, espero.