O País está completamente parado e suspenso do que se passará no futuro próximo e do que vai ocorrer no final desta semana. O caos está consagrado. A coligação que foi humilhada pelo Presidente Cavaco Silva, não se demitiu, como a dignidade do primeiro-ministro devia ter feito. Mas não o fez porque lhe falta justamente dignidade para tanto. E Paulo Portas aceita voltar a ser ministro dos Negócios Estrangeiros, como o Presidente da República (PR) exigiu? O silêncio é total. Tudo está parado.
Agora está-se à espera do que vai acontecer entre o PSD, o CDS e o PS, se é o que o PR gostaria que sucedesse. Mas como? Ignorando a forma como Passos Coelho tratou o PS desde que chegou ao Governo? Tentou eliminá-lo desde o primeiro dia e assim continua até hoje. E agora que precisa do PS, porque o PR assim o exige e a troika também, oferece-lhe, sem vergonha, batatinhas. Só se o líder do PS e os dirigentes do Partido estivessem doidos aceitariam.
Nada mudará neste País enquanto este Governo não se demitir. O PR tem que se convencer que para os portugueses na sua esmagadora maioria, mesmo para muitos dos PSDs mais conhecidos e respeitados, a prioridade das prioridades passa pela queda do Governo. Que se demita como o País exige e antes que seja tarde e acabe em violência.
Cautela! Não o digo por o desejar mas tão só para evitar esse trauma.
O deputado do PSD, antigo presidente do Governo dos Açores e do Parlamento, Mota Amaral, com a sua lucidez, disse há poucos dias: “Só agora é que se lembram de um acordo impossível com o PS, quando desde o início do Governo sempre tentaram eliminar e humilhar o PS em todos os tons? Agora é tarde!” Por isso digo eu, tal não pode acontecer. Seria o fim do PS, dando ao PCP todas as probabilidades de acabar com ele. Está, por todas as razões, fora de questão.
O Governo que se arranje, como quiser. E o Presidente Cavaco Silva nem sequer devia ter posto essa questão que, ao contrário do que pensa, só lhe iria criar problemas. Enquanto não demitir o Governo e não quiser arranjar, por exemplo, um Governo de Salvação Nacional, com pessoas responsáveis e independentes, já que não quer eleições, que bata a outras portas mas não à do PS. Como disse Zorrinho: “Este Governo é um Governo esgotado e falhado”. É patriótico acabar com ele. Esqueça o resto, senhor Presidente, e acabe com ele.
A própria troika e os mercados que a comandam sabem a importância dos partidos e os limites que não podem ultrapassar, já perceberam que este Governo tem de cair, até porque está a ficar desacreditado internacionalmente. Daí as suas reservas. Tudo está paralisado “à espera de Godot”. O Governo só quer continuar a vender o património nacional, ter mais tempo para fazer os últimos negócios e, já nem sequer pensa no que deve à troika. E o País, pobre País – não conta.
Senhor Presidente, não pode ignorar a crise em que estamos e o que sofrem os portugueses. Acabe com este Governo que o Povo odeia.
Agora decidiu ir até às Selvagens enquanto espera pelo resultado de um possível acordo. Está no seu direito. Mas não espere, porque não é possível. Os dirigentes e os militantes do PS não podem aceitar um acordo que podia destruí-lo como partido e só beneficiava o PCP, que podia “comer” uma grande fatia do PS.
Aliás deve ter em conta também o que se passa com os social-democratas que estão claramente contra o Governo de Passos Coelho. Não falo só dos que o dizem claramente e com coragem, como Manuela Ferreira Leite, Rui Rio, Miguel Veiga, Pacheco Pereira, António Capucho, entre outros, e como os que se candidatam às próximas eleições autárquicas e não dizem ser social-democratas, para as não perderem. Refiro-me também aos militantes que se recusaram a participar na festa do aniversário do partido, lembrados que Sá Carneiro sempre foi um homem de Esquerda, e não de Direita.
Manuel Alegre, numa entrevista notável ao Diário de Notícias, diz: “Cavaco Silva não fez o que devia: resolver a crise (…) Passa uma certidão de óbito ao Governo, mas mantendo-o em funções”. E mais adiante: “O PS não é o terceiro partido da Direita. Aliás se isso acontecesse (o acordo) seria o suicídio político do PS ou desta direção.”
Este Governo precisa quanto antes de se demitir ou ser demitido. É o que o PR tem que fazer, para que o seu discurso tenha algum sentido. Se não, não tem.