O fim da semana passada, desde o feriado do Corpo de Deus, que segundo o Governo vai deixar de ser feriado, nos próximos cinco anos, foi rico em acontecimentos, à escala portuguesa, europeia e mundial. Merece um breve inventário.
Em Portugal, o Governo comemorou o seu primeiro ano de existência. A troika – que nos transformou num protetorado – elogiou o Governo. Pudera. Fez o que ela manda e os juros que os mercados especulativos recebem, pelos empréstimos que foram feitos, constituem uma fatia financeira apetecível…
Quanto ao desemprego, que não para de subir, à paralisação da nossa economia e de alguns ministérios, ao empobrecimento de parte considerável da população – disso não se fala. Os portugueses são pacientes, como foi dito. Ao que parece, não precisam sequer que lhes expliquem os apertos impostos. Ora não creio que seja assim. O desespero é mau conselheiro. E como foi dito pelo próprio Governo, honra lhe seja, o ano de 2013 ainda vai ser pior do que 2012. Não nos admiremos, pois, que a indignação se manifeste e desça à rua. Talvez quando menos se espera. Há muitos exemplos disso noutros países.
Mas, como tenho escrito, a nossa crise é global e múltipla. Veio dos EUA e contagiou, há mais de dois anos, a União Europeia (UE), que longe de reagir só a agravou. Era de esperar. Os dirigentes europeus que a provocaram – ultraconservadores e neoliberais – são os mesmos que alimentam a crise e agora, à última hora, querem evitá-la. Para que a UE não caia no abismo.
Há sinais que esse temor começa a ser real. No próximo dia 17 há eleições na Grécia e espera-se que o resultado não seja catastrófico. A senhora Merkel, uma vez perdido o seu “amigo” Nicolas Sarkozy, já disse ao seu sucessor, François Hollande, que não deixará cair a Grécia. Decisão tardia, mas enfim, se for cumprida, louvável.
Entretanto, na televisão grega, um deputado neonazi (cuidado, estão a aparecer por toda a Europa) esbofeteou uma deputada comunista, que aliás retorquiu com valentia. Triste sinal de que a Democracia e os Estados de Direito estão a perder terreno… A violência é incompatível com a Democracia.
Grécia, Irlanda, Portugal e Chipre têm vindo a criar preocupações sérias à zona euro. Por não terem sido assistidos a tempo. Mas o pior estava para vir. Veio no sábado, 9, quando foi assumido que caixas e bancos espanhóis, com reputação de sérios e seguros, perderam a liquidez, revelando alguns grandes buracos e fraudes. Ora a Espanha não é um país qualquer, representa a quarta economia da zona euro.
Mariano Rajoy, primeiro-ministro eleito pelo PP, fez bem em não pedir o resgate. Pediu auxílio, tão só. Não houve troika nem medidas forçadas de austeridade. E é a favor dos eurobonds. O presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, cedeu. Ainda bem. Porque atrás de Espanha, vinha necessariamente a Itália. Quem teria mão numa tal situação? A chanceler Merkel, isolada como começa a estar, seguramente que não.
O Presidente Obama revelou que o colapso da Europa teria consequências muito sérias para os EUA e, obviamente, para a sua reeleição de novembro. A China, a segunda grande economia mundial, começou a sentir os efeitos da crise global. E se tornou pública essa situação, é porque sabe que a não pode evitar. O Japão, a Índia, Taiwan, a Indonésia e a própria Rússia estão a sentir o mesmo…
A chanceler Merkel, responsável pela crise que hoje aflige toda a Europa, devia ter tido outro cuidado, visto provir de um país que no passado recente provocou duas guerras mundiais. Esperemos que faça, como aprendeu na Alemanha de Leste, a autocrítica que aí lhe ensinaram…
Noutro artigo falarei de África, do universo muçulmano, de Israel, da Ibero-América, e naturalmente da ONU, que parece estar a desaparecer nas mãos inertes do atual secretário-geral. Ninguém esperava o que nos está a acontecer. O tempo vai muito difícil… O capitalismo de casino e a globalização desregulada são bombas perigosas que podem explodir em qualquer momento.