Em 1960, a larga maioria da população com mais de 15 anos não havia permanecido na escola tempo suficiente para completar, sequer, o mais básico dos níveis escolares, como é possível constatar através da análise dos dados da Pordata. Assim, 66% da população nessa faixa etária não havia completado o 1º ciclo – o que era ainda mais oneroso para a população feminina, 72% da qual se encontrava nessa situação. Atualmente o panorama é bem diverso.
Em 2010, “apenas” 10,3% da população portuguesa com 15 ou mais anos se encontrava na desagradável situação de não ter completado qualquer grau de ensino. As mulheres, com 13,4%, e os mais idosos, eram as fatias da população mais atingidas. A atual situação ainda penalizadora das mulheres é explicada sobretudo pelo efeito da maior sobrevivência feminina – as mulheres vivem em média mais anos do que os homens e, portanto, o efeito estatístico das suas baixas qualificações permanece durante mais tempo. Na verdade, a escola foi uma aposta clara das novas gerações.
Em 2009, as mulheres obtiveram 52% dos graus de doutoramentos conferidos em Portugal, representaram 59% dos diplomados do ensino superior e 53% dos matriculados neste nível de ensino. Além disso, a população do sexo feminino apresentava níveis de abandono escolar precoce inferior à do sexo masculino. Em 2010, 33% dos homens entre os 18 e os 24 anos havia saído da escola sem concluir o secundário enquanto a percentagem de mulheres nesta situação se fixava nos 25%.
Quanto ao mercado de trabalho se, em 1974, 40% da população empregada era do sexo feminino, em 2010 as mulheres já representam 47% dos empregados em território nacional. Com uma taxa de atividade feminina de 56% (2009), Portugal é um dos países da União Europeia onde a proporção de mulheres entre os 15 e os 64 anos inseridas no mercado de trabalho é mais elevado, apenas atrás, na União Europeia, da Dinamarca (60,6%), Suécia (59,4%), Países Baixos (59%) e Finlândia (56,9%). Os setores relacionados com as funções do Estado Social são aqueles onde o predomínio estatístico das mulheres é particularmente evidente, como os da Educação e da Saúde – não é por acaso, por exemplo, que 77% dos docentes do ensino não-superior são mulheres.
Enquanto estas transformações ocorreram, verificou-se uma significativa redução do número médio de filhos por mulher e um claro retardar do projecto de maternidade. Actualmente o número médio de filhos por mulher, insuficiente para que a substituição de gerações esteja garantida, é bastante baixo – de 1,32 filhos. Por outro lado, a idade média de nascimento do 1º filho é de 29 anos, cinco anos mais tarde, em média, que o observado no início dos anos 80.
Apesar de estas alterações de comportamento face à fecundidade, afirmar que as mulheres deixaram de ter um papel crucial no espaço familiar é um equívoco. O apoio necessário aos ascendentes ainda vivos continua muito alicerçado nas mulheres. Em relação aos filhos, a sua presença também persiste muito elevada. Isso constata-se, por exemplo, pela análise da composição do crescente número de famílias monoparentais, nas quais são maioritárias as situações de mães com filhos – em 87% destes casos, o progenitor é do sexo feminino.
Assim, e sem prejuízo de continuarem a desempenhar alguns dos papéis que lhes eram tradicionais, as mulheres protagoniza(ra)m algumas das mais decisivas transformações do Portugal contemporâneo.