É meio-dia em ponto, sexta-feira santa. Estamos estacionados no centro de Elvas, na Praça da República, com as portas abertas para quem nos quiser visitar. Lá fora, ouvem-se sinos, e vozes, em espanhol. O dia não convida a longas conversas na Praça, mas quando a chuva pára, muitas pessoas aproximam-se, curiosas. Nota dominante, e talvez surpreendente: ao verem a edição da VISÃO História com Salazar na capa (número dedicado às conspirações contra Estado Novo) quase toda a gente, na maioria reformados, tem a mesma reacção: “Precisávamos era que ele voltasse!”, “Isto já não ia lá só com um Salazar, mas com dois!”. Alguém recorda, com orgulho, que Salazar vinha muitas vezes a Elvas, um ex-polícia recorda as horas que passou nos Jerónimos, ao serviço no funeral do ditador… Enquanto escrevo estas linhas, um senhor aproxima-se. É Manuel Rosa, tem 72 anos, viúvo. Queixa-se da solidão, gosta de ler, agradece as revistas que lhe damos e… entusiasma-se mais com a tal VISÃO História. “Estive preso em Peniche à conta deste cavalheiro, em 1962, durante três meses…”. Respondo-lhe que estou surpreendido com a quantidade de pessoas que dizem ter saudades dele, mas a surpresa aumenta quando o Sr. Rosa responde: “E têm razão! Agora faz mesmo falta, um Salazar em cada província!”. E não está a ironizar. Vivemos tempos estranhos.
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