Hoje, talvez seja difícil de encontrar alguém que, perante um sintoma persistente ou um diagnóstico mais complicado, não vá parar às páginas da internet à procura de algumas respostas. Até os médicos concordam que são comportamentos inevitáveis e quase sem consequências (a não ser que alguém digite “dor de cabeça” e se convença de que tem um tumor).
Pior é quando se entra em fóruns duvidosos ou em alguns grupos no Facebook, que estão cheios de mezinhas e dicas de tratamentos alternativos, e se deixa de lado a prescrição do especialista. Parece-lhe inofensivo? Pois então saiba que, enquanto recolhíamos informação para este artigo, ouvimos várias histórias de falência hepática por causa de chás, por exemplo, ou outros suplementos alimentares que se escondem debaixo da alegação natural, mas que podem causar danos irreversíveis ao organismo.
Por falar em natural, em nada resultará abrir uma cebola ao meio e pô-la no quarto de uma criança com tosse (só lamentamos que tenha de dormir com esse cheiro), mas a cânfora, que é recomendada muitas vezes em comentários nos grupos de mães no Facebook, se esfregada com muita pressão, pode resultar em convulsões.
São histórias e alertas como estes, devidamente integrados nos conselhos de especialistas preocupados com o Dr. Google e o aconselhamento médico virtual ad doc, que poderá encontrar no texto, que faz capa desta edição, assinado por mim e pela minha colega da frente, Sara Sá.
Escrutínio às comissões de inquérito
Da banca aos fundos europeus, dos clubes de futebol à comunicação social, de tragédias como Camarate à importação de batatas – quase tudo foi objeto de investigações parlamentares no Portugal democrático. Na semana em que arranca a 79ª Comissão de Inquérito – tema: Tancos –, Octávio Lousada Oliveira revisita as mentiras, os esquecimentos, os confrontos, os protagonistas e os resultados das anteriores.
Jogos que valem mais do que cinema
Escreve o Nuno Aguiar que a indústria dos jogos de vídeo se transformou num colosso económico, coisa que deve continuar a acontecer nos anos que aí vêm. Foi essa a premissa para irmos perceber o que está a puxar por este mercado e quais as consequências de haver tanta gente agarrada aos ecrãs. Entretanto, leia aqui a notícia sobre o lançamento do jogo Red Dead Redemption 2 no mês passado.
Mulheres contra a Administração Trump
Nem vale a pena fingir que este texto de Filipe Fialho não deixou as mulheres da redação com um sorriso nos lábios. Pudera, ora veja lá o que ele nos conta acerca das novas congressistas: são brancas, negras, hispânicas, ameríndias, socialistas, muçulmanas e lésbicas, mas isso é o que menos importa – o melhor é que estão a ganhar importância no panorama político norte-americano e a fazer sombra a Trump.
David Lynch, a preto-e-branco
Os mais velhos hão de lembrar-se dele na ficha técnica da série de culto Twin Peaks. E agora podem recordá-lo, porque este realizador norte-americano é muito mais do que isso, nas exposições que se inauguram no Lisbon & Sintra Film Festival e sobretudo no livro, Espaço para Sonhar, uma mistura de biografia e memórias, escrito pelo cineasta e pela jornalista Kristine McKenna. Aproveite este aperitivo, servido pelo jornalista Miguel Halpern, e depois aprofunde conhecimentos, visitando as exposições ou lendo a obra.
Lisboa sobe e desce
À boleia das novas escadas rolantes no Martim Moniz, subimos ao coração da Mouraria. E de lá trouxemos um roteiro cheio de novidades fresquinhas – como a loja de empanadas Union – para fazer um passeio num destes dias.
Com muita opinião
A primeira frase de António Lobo Antunes, na sua crónica desta semana, é suficiente para nos comover. O resto do texto segue no mesmo registo intimista de ode ao seu amigo e escritor José Cardoso Pires:
“Faz vinte anos que morreu o meu melhor amigo, o Zé, e a sua ausência continua a doer-me, como me dói o telefone não tocar às dez da manhã todos os dias e eu já saber que era ele antes de pegar no aparelho, como me dói não almoçarmos nem jantarmos nunca, como me dói não poder abraçá-lo.”
Há quase 30 anos (29, para ser mais precisa) caía o Muro de Berlim. Adolfo Mesquita Nunes recorda a importância desse acontecimento:
“Num tempo em que os autoritarismos voltam a seduzir multidões, em que o valor da liberdade se mitiga ou relativiza em nome de outros valores supostamente maiores, é essencial celebrar a queda do Muro de Berlim enquanto vitória moral da liberdade.”
Ricardo Araújo Pereira dispensa apresentações. Se for daqueles que começa a ler a revista de trás para a frente, por causa das suas crónicas, saiba que a desta semana termina com a seguinte frase lapidar:
“De um certo ponto de vista, a justiça portuguesa é justiça divina: só castiga o pecador depois da sua morte.”
E, posto isto, resta-me desejar-lhe boas leituras. Nós vamos continuar por aqui