Júlio Fogaça era um jovem fidalgo rico e herdeiro de 178 hectares de boas terras no Oeste, quando, no início dos anos 30, aderiu ao Partido Comunista Português, pela mão do seu fundador histórico, Bento Gonçalves. Preso juntamente com o líder e mestre, foi parar com os costados ao campo de concentração do Tarrafal, onde Gonçalves havia de morrer, não sem antes lhe ter passado o testemunho da liderança dos comunistas portugueses, pedindo-lhe que reorganizasse o partido e o expurgasse das infiltrações operadas pela PIDE. Fogaça revelou-se, então, um líder duro e competente, tendo mesmo descoberto e recrutado alguns novos talentos, entre os quais um tal Álvaro Cunhal. Os dois homens, porém, logo viriam a desenvolver uma implacável rivalidade, na luta pelo poder interno. Mas Júlio Fogaça revelaria um handicap negativo que o perderia junto dos comunistas: o da sua homossexualidade, um pecado interdito no quadro do conservadorismo moral do partido, pelo menos, à época. A pretexto da sua captura, pela polícia política de Salazar, juntamente com o namorado, na Nazaré, a 28 de agosto de 1960, é expulso do PCP, pela suposta “grave violação das regras de segurança conspirativa e de clandestinidade”, abrindo espaço à longa liderança de Cunhal. (Na verdade, se, de cada vez que um militante se deixasse prender, fosse alvo de expulsão por tais motivos, o PCP rapidamente teria desaparecido…). Seja como for, a vida de Júlio Fogaça deu um livro, agora lançado pelo jornalista e historiador Adelino Cunha. E esta trama de poder, clandestinidade, resistência e sexo é, esta semana, o tema de capa da VISÃO, magistralmente desenvolvido pela pena do J. Plácido Júnior. Em complemento, este vosso amigo procura explicar, numa página, com exemplos concretos, as razões históricas de um certo conservadorismo moral dos comunistas portugueses.
O tetra da Geringonça
E vão quatro: o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos – que, ao longo dos últimos três anos, foi uma espécie de pivô da Geringonça, servindo de oficial de ligação entre o Governo e os partidos que, no Parlamento, o apoiam – foi bem explícito, na segunda-feira à noite, quando acompanhou o ministro Mário Centeno à Assembleia, para a entrega da pen com a proposta do Orçamento do Estado para 2019: perante as câmaras de TV que registavam a passagem da comitiva pelos Passos Perdidos do edifício, ergueu bem alto quatro dedos, em sinal dos quatro orçamentos que permitirão que a legislatura possa chegar ao fim do prazo normal. O Orçamento é esmiuçado, e, sobretudo, explicado, em linguagem simples, aos nossos leitores, com tudo o que nos interessa, no plano concreto, para o governo das nossas vidas em 2019. Nuno Aguiar – que também entrevistou João Leão, o secretário de Estado do Orçamento –, Clara Teixeira e Paulo M. Santos explicam, tintim por tintim, como se chegou até aqui e o que muda no próximo ano.
Logo após esse dossiê de 12 páginas, Octávio Lousada Oliveira titula #ElesNão, para explicar por que razão António Costa, a um ano de eleições, prescindiu de quatro ministros, substituindo-os por novos protagonistas. Uma viagem aos bastidores da inesperada remodelação do fim de semana do furacão…
A longa viagem do homem-lobo
Sovado pela madrasta, vendido pelo pai em criança, viveu 12 anos entre lobos. Quando o capturaram, na floresta, até rosnava. O relato de um sobrevivente improvável, Marcos Pantoja, de seu nome, numa incrível reportagem, na Galiza, da autoria dos repórteres Miguel Carvalho (texto) e Lucília Monteiro (fotos). O homem-lobo inspirou teses, livros e filmes. Todos querem conhecê-lo, tocá-lo, assediá-lo, aldrabá-lo. Conheça-o (quase) ao vivo, aqui.
Um país em morte lenta…
… este é o título da reportagem assinada, de Caracas, por Mia Alberti. Um retrato duro, impressivo de um Estado que já foi o mais rico da América Latina, à custa do maná petrolífero. Como explica a repórter, hoje, nas ruas da capital, já não se encontram vestígios da prosperidade de outros tempos, substituída, agora, pela fome e pela criminalidade. O photomaton de um Estado falhado onde, apesar de tudo, não falta quem persista em negar a realidade, bem expressa na já visível subnutrição da sua população.
O rei dos “vistos gold”
O cerco aperta-se aos países da União Europeia com programas de venda de cidadania ou de autorizações de residência (como é o caso de Portugal). A Sílvia Caneco dá a conhecer o advogado suíço que está no centro do negócio e é chamado de “rei dos passaportes”. E leia aqui como a OCDE e a Comissão Europeia começam a ficar incomodadas com o assunto.
A vez dos documentários
Com a crise dos média tradicionais, os documentários são o que está a dar. É o que nos explica Cláudia Marques Santos, demonstrando que este género de expressão artística nunca foi tão produzido nem tão visto. Tudo a propósito do DocLisboa, que chega à sua 16ª edição, cheio de novidades suculentas. Que energia para lá da ficção é esta?
O melhor do Bonfim
Esta semana, no tema de capa da VISÃO Se7e, traçamos um roteiro pelo Bonfim, na zona oriental do Porto, cada vez mais procurado por artistas e onde há novos cafés, galerias e restaurantes para conhecer. Como o Gazete Azulejos, que nos quer ensinar a pintar os azulejos das fachadas do Porto.
Crónicas e opinião gourmet
António Lobo Antunes escreve uma carta à sua Mãe: “Eu só me preocupava com o centro da Terra e a minha Mãe queria que eu fosse uma pessoa responsável e séria”…
Mafalda Anjos desconjunta “a máquina de fazer fascistas”: “Não é de estranhar que o YouTube seja um ponto de partida para o recrutamento da extrema-direita, um pouco por todo o mundo.”
Isabel Moreira fala da violência doméstica como arma: “Lutemos pela formação contínua de magistrados em matéria de igualdade de género.”
José Carlos de Vasconcelos debruça-se sobre o Orçamento: “Ser eleitoralista pressupõe dar a certos estratos populacionais melhoria de condições de vida não justas ou não compagináveis com as possibilidades do País.”
Miguel Araújo socorre-se de um “neologismo” para discutir música: “Os casos mais óbvios de obviofobia são os que se associam àquelas que serão, eventualmente, as maiores bandas dos anos 90.”
E Ricardo Araújo Pereira perora sobre os efeitos do furacão no serviço da EDP: “As coisas que compramos aos chineses costumam ser baratas. A eletricidade logo tinha de ir parar às mãos dos únicos chineses careiros. A EDP é uma espécie de loja dos 300 da eletricidade. Só que é dos 300 milhões.“
O último a sair acenda a luz, que se encontra apagada desde a tempestade de sábado passado. Boas leituras e, para a semana, cá estaremos, com mais ideias luminosas!