Tenho uma tia que conta que, desde pequenina, eu dizia que queria ser “polícia de guardar maus”. Sempre tive curiosidade sobre o motivo de aquelas mulheres cometerem os crimes. Em 2008, quando entrei no Estabelecimento Prisional de Tires, ia muito assustada. Passado aquele portão enorme, lá dentro, o que quer que aconteça não é visível a ninguém. Por isso, comecei a dar-me a conhecer um bocadinho às reclusas. Pensei: “Qualquer dia, estou sozinha num terceiro piso com 80 reclusas… sem câmaras, sem telefone, sem bastão. Na altura, nem sequer rádios tínhamos; era só eu e um molho de chaves.”
Há muita falta de recursos. Nos pavilhões grandes, com 180 mulheres, encontramos muitas delas abandonadas, umas entregues à sua sorte desde que nasceram, outras porque foram condenadas e ninguém quer saber delas. Sem visitas, a família não lhes leva roupa, pasta de dentes ou pensos higiénicos – essas coisas mexeram muito comigo.