Em média, os sismógrafos captam algum tipo de abalo na zona onde fica a Ilha Branca, parte do arquipélago da Nova Zelândia, a cada cinco minutos. Também conhecido como Whakaari, é o mais ativo do país e apresenta graus de atividade variados desde 2011. Apesar disso, ou exatamente por causa disso, é um destino muito popular: as agências de viagens oferecem excursões e voos panorâmicos diariamente para a ilha.
Falta ainda dizer que toda a região é conhecida como Círculo do Fogo, assim batizada porque há ali, no fundo do oceano, uma grande série de arcos vulcânicos e fossas oceânicas que coincidem com as extremidades de uma das maiores placas tectónicas do mundo. Além disso, cerca de 90% dos abalos sísmicos já registados no planeta aconteceram ali. São 40 mil quilómetros de extensão que abrange todo o continente americano virado para o Pacífico, além do Japão, Filipinas, Indonésia, Nova Zelândia e ainda ilhas do Pacífico Sul. Qualquer coisa como 450 vulcões, incluindo três dos quatro mais ativos do mundo — o Monte Santa Helena, nos Estados Unidos, o Monte Fuji, no Japão, e o Monte Pinatubo, nas Filipinas — situam-se no Círculo de Fogo. O Whakaari, que está 70% debaixo de água, tinha dado sinal de vida, e deitado lava a sério, há uns três anos, mas ninguém ficou ferido. Desta vez não foi assim.
Na segunda-feira, 9, o aumento da atividade começou a sentir-se a partir das quatro da madrugada — depois de a GeoNet, que rastreia toda a atividade sísmica e vulcânica no país, já ter elevado o nível de alerta em meados de novembro. Além de um aumento no dióxido de enxofre, um gás denso, incolor e altamente tóxico, aumentara também o tremor vulcânico. Aquela agência considerara mesmo que a ilha “poderia estar a entrar num período em que a atividade eruptiva era mais provável do que o normal.”
Daí que cientistas como Loyc Vanderkluysen, especialista em vulcões da Universidade de Drexel, nos EUA, já tenham manifestado publicamente alguma surpresa com o facto de haver turistas na ilha depois de se registar um aumento da atividade: o alerta no nível 4, como foi decretado no início da semana, indiciava erupções de gravidade variável. Mas, na verdade, os próprios cientistas locais continuaram a viajar para a ilha nas semanas seguintes – por sorte não havia nenhum trabalho de campo planeado para esta segunda semana de dezembro, ou algum investigador também poderia estar na cratera no momento da explosão. A explicação? “Estávamos a ver os indicadores a mudarem há algumas semanas, o que nos levou a aumentar o nível de alerta, mas não naquele curto espaço de tempo, pouco antes da erupção”, disse o vulcanologista neozelandês Graham Leonard, citado pela Wired.
Anteriormente, outros cientistas tentaram construir modelos que pudessem prever erupções subterrâneas a partir de leituras de sismos. Só que, ao contrário dos fluxos de lava do Havai, este tipo de explosão é mais dificil de prever. Shane Cronin, um vulcanologista da Universidade de Auckland, diz mesmo que a única hipótese de antecipar estes eventos só se faz rastreando o vapor e a pressão do líquido, dentro de tais sistemas hidrotérmicos. Só que são ambientes muito pouco compatíveis com sensores, já que também são incrivelmente dinâmicos.
Inesperado
“Existem muitos sinais contraditórios”, explica ainda Cronin, antes de sublinhar que uma diminuição no gás pode significar que está preso, mas também pode indicar uma diminuição dos níveis de magma. Ao mesmo tempo, aumentos no gás podem significar que o magma está a subir, mas isso não quer dizer que vá gerar uma erupção. “Em resumo, é muito difícil ver se a mudança na superfície equivale a um risco maior de explosão.”
Com a erupção inesperada, o cenário passou a ser descrito como caótico. Equipas de emergência, e sobreviventes entretanto retirados da ilha, recordam ainda as pessoas que correram para dentro de água, a tentarem escapar à fúria da lava, ao mesmo tempo que a densa nuvem branca e cinzenta se elevava em direção ao céu.
Das 47 pessoas que estavam no local, turistas na maioria – da Austrália, Estados Unidos, Reino Unido, China, Alemanha, Malásia e Nova Zelândia – foram já confirmadas 16 mortes. O governo da Austrália informou que 13 cidadãos do país estão internados e 11 estavam desaparecidos. Há também dois britânicos nessa lista e, garantiu ainda uma agência de viagens, dois guias que continuam desaparecidos. A Malásia anunciou também a morte de um cidadão do país e indicou que outro ficou gravemente ferido.
Além disso, a situação no local permanece altamente incerta. Desde a madrugada desta quarta-feira, 11, que os sensores captam tremores crescentes. Os cientistas interpretam isso como uma evidência da alta pressão contínua de gás no interior do vulcão. O nível de alerta permanece no nível 3 e é provável que haja uma erupção nas próximas 24 horas – por enquanto, a melhor previsão possível. Ainda assim, os militares planeiam nova missão à ilha esta sexta-feira, 13, para recuperar os corpos de vítimas ainda desaparecidos. No total, e até ao momento, foram encontrados apenas seis corpos, e há 21 pessoas nos cuidados intensivos.