A praça Tahrir, no centro de Bagdad, continua a ser o ponto de encontro dos corações em revolta. Os maiores protestos no país desde a queda de Saddam Hussein, em 2003, duram já há mais de dois meses e nem a demissão do primeiro-ministro Adel Abdul Mahdi, no domingo, 1 de dezembro, acalmou os ânimos dos protestantes. O Presidente deverá nomear um novo primeiro-ministro até dia 15 e, depois, este terá 30 dias para formar um governo.
Os manifestantes não desarmam. Querem ver para crer. A maioria são jovens a quem foi negada a alegria da infância, crescendo num país em guerra e, com o fim do conflito internacional, acreditaram nas promessas de uma vida melhor. Os anos foram passando sem deixar antever qualquer fio de luz ao fundo do túnel. Estudar? Não dá. Trabalho? Não há. Também não se vê progresso ou mais qualidade de vida no país, nem uma nesga de felicidade no rosto dos iraquianos.
As elites corruptas esticaram demasiado a corda – bem mais do que se esticam agora os elásticos das fisgas improvisadas pelos manifestantes, lançando temerárias pedras contra os militares fiéis ao regime.
A representante especial de António Guterres para o Iraque, Jeanine Hennis-Plasschaert, fez uma apresentação ao Conselho de Segurança da ONU a partir de Bagdad, na terça-feira, 3, contabilizando mais de 400 mortos e 19 mil feridos nas ruas da capital iraquiana.
Os protestos, explicou, têm sido liderados por jovens que “expressam frustração por não terem boas perspetivas económicas, sociais e políticas”. Não será fácil conseguir que, de repente, se voltem a fechar em casa, e também não ajuda o facto de a polícia continua a usar munições reais contra os manifestantes, além de prosseguirem as detenções ilegais.
Hennis-Plasschaert foi clara: “Estes jovens querem eleições livres, justas e credíveis, o fim da corrupção generalizada e mais emprego e crescimento. Eles sabem perfeitamente que um futuro melhor é possível.”