O negociador da empresa Privinvest, acusada de subornar governantes e políticos, Jean Boustani, disse que a empresa pagou quatro milhões de dólares (3,6 milhões de euros) para o partido Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder) para “apoiar a campanha presidencial” do Presidente Filipe Nyusi, em 2014.
Recorde-se que o Nyusi foi recentemente reconduzido no cargo, depois das eleições gerais de outubro. O candidato da FRELIMO deverá ser empossado durante o mês de dezembro. Espera-se que o responsável possa representar uma nova geração de líderes no poder, e que possa conduzir o país à prosperidade, numa altura em que Moçambique enfrenta grandes dificuldades económicas.
Boustani, que enfrenta acusações de fraude económica, fraude de valores mobiliários, suborno de membros do governo e branqueamento de capitais, garantiu que nenhum pagamento foi “um suborno” relacionado com os projetos das empresas moçambicanas Ematum, MAM ou Proindicus que, entre 2013 e 2016, assumiram empréstimos internacionais à revelia do Governo de Moçambique e causaram uma “dívida oculta” de 2,2 mil milhões de dólares (dois mil milhões de euros).
O caso está a ser investigado e julgado em Nova Iorque uma vez que algumas transferências bancárias terão passado por bancos intermediários nesta cidade, e porque vários investidores norte-americanos sofreram perdas com os investimentos realizados em Moçambique. Recorde-se que em 2016 o Fundo Monetário Internacional (FMI), então liderado por Christine Lagarde, suspendeu a assistência financeira que prestava a Moçambique, e que previa uma ajuda de 282,9 milhões de dólares, na sequência da descoberta das dívidas ocultas.
O suspeito Jean Boustani, acusado de pagar subornos a membros do Governo moçambicano, disse esta quarta-feira, 20 de novembro, em tribunal que a empresa em que trabalhava “alocou” 125 milhões de dólares para investir no país e “cimentar relações” para o futuro. O responsável de vendas da construtora naval Privinvest, rejeitou na quarta-feira as acusações de suborno a membros do Governo moçambicanos, dizendo que a empresa queria fazer lóbi junto dos decisores moçambicanos, com “bons investimentos” para o “grande futuro” do país.
A corrida às eleições presidenciais ou ao parlamento, uma empresa de extração de rubis, a criação da Autoridade Marítima de Moçambique ou um programa de tratamento de dados “offset” são apenas alguns dos exemplos de “negócios pessoais” em que a Privinvest queria financiar para moçambicanos “de relevo”. No primeiro dia em que foi ouvido, esta segunda-feira, Boustini afirmou ainda que introduziu a ideia de investimento numa reunião com o Ministério da Ciência e Tecnologia.
Terá sido nesse encontro que conheceu Teófilo Nhangumele, em 2011. O moçambicano – cujos advogados garantem que não era funcionário do governo à época dos alegados pagamentos, e que é condição fundamental para que a acusação prossiga – serviu entre 2001 e 2008 como diretor de relações públicas e gerente de relações com o governo da empresa British Petroleum em Moçambique e entre 2009 e 2011, trabalhou no governo de Moçambique como diretor financeiro do Ministério da Juventude e Desportos, um cargo que terá abandonado antes dos pagamentos descritos na acusação norte-americana.
Entre 2012 e 2014, Nhangumele foi gerente nacional na Companhia de Petróleo Nacional da África do Sul (PetroSA), antes de assumir o cargo de gerente nacional da McDermott Marine Construction, responsável pelo contacto com autoridades locais e diplomáticas para facilitar o acesso a “informações valiosas de mercado para completar ofertas em dois grandes contratos de petróleo”.
*com Lusa